Momento Espírita
Curitiba, 26 de Abril de 2024
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ícone Todos merecem compaixão

Aconteceu numa das capelas do cemitério, onde estava sendo velado o corpo de um amigo.

Velório concorrido. Parentes, amigos, colegas de trabalho iam e vinham em blocos. Aquela pessoa semeara afetos, amizades. Todos ali estavam para lhe dizer o quanto era amada.

Num dos momentos em que tudo se acalmou, um dos presentes, curioso, resolveu andar pelas demais capelas.

Eram duas. Numa delas, havia um número razoável de pessoas, que oravam. Ele ficou à porta, respeitosamente, alguns instantes. Depois se dirigiu para a outra.

Ali não havia mais do que três pessoas. Imaginou que deveriam estar aguardando familiares distantes, residentes em outros municípios.

Mas, onde estavam os amigos, vizinhos, colegas de trabalho?

Resolveu entrar. Sentou-se ao lado de uma senhora que tinha o olhar mergulhado no nada, indiferente a tudo.

Decidido, lhe perguntou: Vocês estão esperando chegarem os parentes? Eles moram em outra localidade?

Ela pareceu despertar do torpor. Com voz arrastada, continuando a olhar o vazio, simplesmente respondeu:

Não, com certeza não virá mais ninguém. Ele era uma pessoa muito ruim.

A resposta chocou o interlocutor. Lembrou do colega de trabalho sendo velado há poucos passos, com tanta gente, flores e homenagens.

Saiu de mansinho. Algo dentro dele lhe falou de compaixão. As palavras de Jesus, conforme os apontamentos do Evangelista Marcos lhe acudiram à mente: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes.

Dirigiu-se à floricultura próxima, comprou um vaso de flores amarelas, exuberantes e as levou para a capela fria.

Ficou próximo ao caixão, onde estava o corpo, e orou.

Sua alma, sinceramente, sentiu infinita compaixão daquela criatura. Entre as frases da rogativa aos céus por aquele Espírito, desejou que tivesse quem o recebesse na Espiritualidade.

*   *   *

O ato do desconhecido foi de caridade cristã. Se aquela criatura semeara maldade em sua jornada, mais do que ninguém necessitava de preces, de pedidos aos bons Espíritos para que o amparassem.

Ele se lembrou de orar, de pedir misericórdia ao bom Deus para com aquele filho que jogara fora muitas oportunidades.

E perfumou a sua oração, com algumas flores, para preencher o enorme vazio dos corações que ali estavam, por simples dever.

São os maus, aqueles que esqueceram de preencher as lacunas da vida com ações de bondade, de amizade que nos devem merecer as orações mais sentidas.

Orar pelos que amamos é fácil, espontâneo. Bom que recordemos daqueles que nos são desconhecidos, daqueles que, quando partem, o mundo parece dizer: Já foi tarde.

Quanto mais necessitado o Espírito, mais precisará de apoio. Exatamente como ensinou Jesus: os doentes é que precisam de médico.

Acrescentamos nós: do medicamento da prece, do curativo da compaixão, do bálsamo da misericórdia.

Um dia, partiremos nós. Com certeza, por melhores ou piores que tenhamos sido, apreciaremos quem nos dirija uma prece, quem nos lembre com certo carinho.

Pensemos nisso. Estamos no tempo da semeadura.

Redação do Momento Espírita, com citação
 do
Evangelho de Marcos, cap. 2, vers. 17.
Em 16.8.2022.

 

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