Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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ícone Uma carta de mãe

Certa mãe nos escreveu. Sua carta traduz tanto sentimento de dor, de saudade e de amor, que resolvemos lê-la.

Talvez possa servir para alguns corações, como serviu ao nosso, calando-nos fundo.

Éramos quatro: duas crianças, meu marido e eu.

A menina tinha olhos azuis, parecendo dois pequenos retalhos de céu.

Às vezes, ela dizia coisas que nos perguntávamos de onde extraía aqueles conceitos tão sábios.

Tinha cinco anos, quando começou a se transformar.

Ela ficava cansada por pouca coisa e a levamos ao pediatra.

Foram muitos os exames e, um dia, recebemos a sentença indesejada.

Nossa menina era portadora de um câncer invasivo, altamente progressivo.

Toda a família se encolheu. Nossa casa, de alegre e festiva, com os dois pequenos a reinar, se tornou triste, abafada.

Nossos olhares mal podiam se cruzar e logo lágrimas nos umedeciam a face.

Foram meses de tortura, embora tudo fizéssemos para evitar que ficasse mais triste.

Deixei a atividade profissional para lhe dispensar toda a atenção de que precisava.

Ela continuava a nos dizer coisas lindas, que descobria no tesouro da sua intimidade.

Certa tarde de domingo, quando fazíamos um piquenique, os quatro, numa praça repleta de flores, ela me disse que tivera um sonho.

Contou que fora a um lugar onde havia várias crianças, doentes como ela mesma. Perguntou se sabíamos onde era, porque ela gostaria de fazer uma visita.

Pensamos no hospital infantil, na ala dedicada aos portadores da enfermidade dilaceradora.

No mesmo momento, marcamos para ir, no decorrer da semana.

No entanto, nessa noite, seu quadro se agravou, impossibilitando que a visita se concretizasse.

Ela partiu, docemente, deixando-nos profundas saudades.

*   *   *

Desconhecemos nossas possibilidades até enfrentarmos situações semelhantes. É então que descobrimos que podemos ir muito além.

Passados alguns dias, em nome dela, fomos fazer a visita prometida.

Nosso coração torturado pela dor, se emocionou ao ver tantas crianças ali internadas.

Conversamos com alguns pais. Registramos a coragem de muitos deles, o medo estampado em outros tantos.

Vimos uma menina, distanciada dos demais, e nos aproximamos.

Ela se chamava Cíntia e, depois de um tempo, nos confessou:

"Minha mãe não pôde vir hoje. Ela não pode vir todos os dias das visitas. Mas eu queria dizer para ela não ficar triste com a minha morte.

Todos vamos morrer, iremos para nossa casa verdadeira. Não gostaria de ver minha mãe sofrendo por mim.

Queria que mamãe viesse visitar as crianças mesmo depois que eu for embora.

Sei que ela vai ficar com saudades de mim. Talvez possa dar um pouco de carinho para algumas das crianças que os pais não podem vir para as visitas."

Senti que aquelas palavras eram dirigidas a mim.

Desde então, faço daquele pedido minha mais fervorosa oração, indo todas as semanas conversar com as crianças que enfrentam o câncer e que estão sozinhas.

O que refrigera a minha alma é que encontro nessas visitas o lenitivo para minha saudade.

Será que minha menina me abraça a cada vez que ali estou, com outros pequenos?

Redação do Momento Espírita.
Em 5.2.2022..

 

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