Quando uma catástrofe de grandes proporções assume as manchetes dos meios de comunicação de massa, o povo declara, indignado: “o mundo não é mais o mesmo!”
No
entanto, a cada momento que um cidadão melhora, com sua ação, uma situação
qualquer, pode-se dizer que o mundo não é mais o mesmo: está melhor.
Quando
uma pessoa adota uma criança sem pais; quando alguém de boa vontade dedica seu
tempo a um idoso desvalido; quando pessoas de bem visitam presídios e levam
afeto a delinqüentes infelizes, podemos dizer que o mundo está um pouco
melhor.
Quando
voluntários se dedicam a crianças que não têm acesso à arte, à cultura, à
escola, o mundo não é mais o mesmo, está melhor.
E
quando um homem doa seu tempo e seus conhecimentos em prol da construção da
liberdade de povos que sequer falam a sua língua, podemos afirmar com certeza:
o mundo está bem melhor.
Pouco
se ouvia falar do cidadão Sérgio
Vieira de Mello até o dia em que um carro-bomba explodiu sob a janela de seu
escritório, no Iraque.
No
entanto, aquele homem singular tinha um ideal bem definido, ao qual dedicou
trinta e cinco anos de sua curta jornada terrestre.
Era
um homem que se compadecia com a desgraça do próximo.
Por
sua diplomacia, firmeza e doçura, foi enviado pela organização das nações
unidas para ajudar na solução dos conflitos deixados no Iraque após a invasão
norte-americana.
Ele
atuou em Kosovo, Timor Leste, Moçambique, Sudão, Chipre, Peru, sempre com o
intuito de promover a paz e a concórdia entre povos em conflito.
A
cada uma das suas ações de paz, certamente o mundo ficava um pouco melhor.
...Um
homem..., uma vida..., um ideal.
...O
mundo não é mais o mesmo...
As
luzes do palco físico se apagavam lentamente para aquele trabalhador incansável...
Seu
corpo físico estava ferido e preso entre os escombros, mas a dor não impedia
aquele construtor de um mundo melhor de pensar em seus amigos e companheiros de
jornada...
O
bombeiro que tentou salvá-lo, “disse
que em momento algum, mesmo em suas últimas horas, o brasileiro mencionou que
era Sérgio Vieira de Mello, funcionário veterano da onu e o homem escolhido
pelo secretário-geral da organização, Kofi Annan, para liderar a missão no
Iraque.”
Disse,
ainda, que enquanto conversava com Sérgio para mantê-lo consciente, ele
perguntava:
Como
estão todos? Há quantas pessoas feridas? Você pode me dizer o que aconteceu?
Mesmo
ferido e sentindo dores acerbas, Sérgio pensava nos outros.
Poucas
horas mais tarde, o missionário saía de cena...
Deixava
os palcos terrenos onde desempenhou com maestria o papel que lhe competia...
No
instante derradeiro, quando suas forças estavam no fim, Sérgio usou o sopro de
voz que lhe restava para expressar o desejo de que
a onu continuasse no Iraque.
“Não
deixe que eles retirem a missão”, disse ao bombeiro que lhe prestava socorro.
Por
tudo isso hoje, hoje podemos dizer que o mundo não é mais o mesmo... está
melhor. Porque um homem, que não era, nem pretendia ser santo, fez a sua parte.
Um
homem que colocou seu tijolo de amor na construção de um mundo onde a paz
possa ser, um dia, realidade.
...
Um homem, um ideal, uma vida.
Sérgio
Vieira de Mello escreveu, com as tintas inapagáveis do amor ao próximo, sua
história... e deu a vida pelo ideal de um mundo livre e soberano, onde os
direitos humanos sejam efetivamente respeitados.
E,
como tantos outros, ao fechar a mala e retornar para casa, Sérgio pôde dizer:
Meu dia de trabalho acabou. Mas
não posso dizer: minha vida acabou. Meu dia de trabalho se iniciará de novo na
manhã seguinte. O túmulo não é um beco sem saída, é uma passagem. Fecha-se
ao crepúsculo e a aurora vem abri-lo novamente.
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em matéria publicada no jornal Gazeta do Povo, em 27/08/2003 e em palavras de Vitor Hugo, do livro A Reencarnação Através dos Séculos.