Havia um homem simples que vivia num vilarejo e tirava seu sustento de um campo de trigo. Aquela plantação era mais que alimento. Era seu orgulho, sua segurança, a representação visível de seu esforço.
Certa noite, porém, uma tempestade inesperada varreu a região. O vento soprou com violência. A chuva caiu sem piedade. Pela manhã, o campo jazia destruído.
Desolado, o homem ajoelhou-se sobre a terra encharcada, olhando para os restos daquilo que um dia fora sua fonte de vida.
E chorou amargamente. Olhou para o céu e clamou: Por que, Senhor? Por que me tiraste tudo?
Um ancião do vilarejo, que lhe escutou os lamentos, se aproximou. Seus olhos traziam a serenidade dos que atravessaram muitas tempestades.
Com voz mansa, disse-lhe: Você perdeu o que era visível... Mas o que fazia esse campo crescer vinha do invisível: o calor do sol, a brisa do vento, a água da chuva, o cuidado diário... E, sobretudo, a esperança.
O agricultor permaneceu em silêncio, ouvindo com o coração.
O campo, meu filho, pode renascer. Mas talvez agora você o cultive com mais humildade, mais paciência, mais sabedoria e até de uma maneira mais eficiente. A dor pode ter arrancado suas ilusões, mas deixou raízes mais profundas.
* * *
O tempo passou. Movido por um novo olhar sobre a vida, aquele homem replantou o seu campo. Porém, não era mais o mesmo.
Buscou orientação, aprendeu novas formas de cuidar da terra, aceitou ajuda de vizinhos. E, com esforço renovado, fez daquele campo o mais fértil que já possuíra.
Afinal, não foi o mesmo homem que replantou. Foi um homem renascido.
* * *
Quantas vezes, em nossas vidas, vemos o que construímos ser levado por ventos que não controlamos?
Pode ser uma perda, uma decepção, um desemprego, uma doença ou uma despedida inesperada. Nessas horas, a dor parece devastar tudo.
É então que nasce a verdadeira força. Porque a dor destrói o que é passageiro, mas fortalece o que é duradouro.
Há momentos em que os ventos da vida nos surpreendem e derrubam tudo o que julgávamos seguros e perenes. É quando se nos faz necessário buscar entendimento profundo sobre o porquê e para que nos chega o sofrimento.
Necessitamos aprender que nenhuma experiência é perdida. As perdas mais duras permanecem como lições que o tempo revela com sabedoria no campo da nossa existência.
Cabe-nos entender que a dor não vem por crueldade divina. Ao contrário, ela nos constitui ferramenta de lapidação, lição que fortalece.
Cada desafio é oportunidade de crescimento. O sofrimento, quando compreendido, se transforma em semente de renovação.
Cientes de que as tempestades não vêm para nos castigar ou maltratar, saberemos usá-las como caminhos para o próprio progresso.
Haveremos de encontrar forças para o replantio, o refazimento, o retomar da jornada.
Isso nos permitirá olhar para o campo devastado da vida e afirmar: Eu não sou apenas o que perdi. Eu sou o que posso plantar novamente.
Redação do Momento Espírita, com base no conto
popular O campo devastado e a tempestade,
de autoria desconhecida
Em 20.9.2025
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