Conta-se que um aldeão, homem rude, mas sincero, queixou-se a um sábio de que o mau impulso o dominava constantemente.
Sabes montar a cavalo? - Perguntou o sábio.
Sei, sim senhor. - Respondeu prontamente o aldeão.
E monto com muita perícia. Sei até lidar com cavalos bravios.
Que fazes, quando te acontece de cair? - Indagou o sábio.
Monto outra vez. - Retrucou o homem com certa empáfia.
Pois bem: faz de conta que o mau impulso seja o cavalo. – Disse o sábio, com um sorriso de inteligência.
Se caíres, torna a montar. No fim domarás o cavalo bravio e andarás pela vida sem receio.
* * *
Importante ensinamento esse, pois muitos são os que jogam a culpa de seus atos infelizes nos seus maus impulsos.
Dizem que a carne é fraca e com isso justificam os instintos negativos de toda ordem.
Em O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, este assunto foi tratado com muita clareza.
Desejando saber sobre as paixões ou impulsos que têm conduzido o homem a grandes conquistas, mas também a grandes abismos, o Codificador da Doutrina Espírita perguntou aos sábios da Espiritualidade:
Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza?
Não, responderam os imortais, a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.
Desejando aclarar mais o entendimento, Kardec indagou:
Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?
E a resposta: As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar.
Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.
As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência.
Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos poderia produzir o bem, volta-se contra ele e o esmaga.
Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência.
A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer.
Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual.
Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.
Como podemos perceber, o sábio tinha razão quando disse ao aldeão que que ele devia conduzir o corcel e não o inverso.
Quando não conseguimos segurar as rédeas dos impulsos, eles nos levam por caminhos difíceis e podemos nos ferir gravemente ou nos precipitar em abismos escuros e profundos.
Por todas essas razões, vale a pena domar esse cavalo bravio que muitas vezes tenta nos dominar.
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A ambição é um exemplo de paixão que impulsiona o homem a grandes conquistas. Mas quando o homem se deixa por ela dominar, pode encontrar pela frente muita dor e sofrimento.
Pense nisso!
Redação do Momento Espírita com base em conto do
livro Lendas do povo de Deus, de Malba Tahan, ed. Record e
nos itens 907 e 908 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec,
ed. Feb.
Em 15.08.2011.