Nos dias que correm, encontramos pessoas que temem chegar à velhice porque a consideram uma época de problemas de saúde, de dores, de limitações.
Há os que acreditam que ela acaba com o vigor físico, com as energias, com a beleza.
De uma maneira paradoxal, não desejam morrer.
Portanto, se os anos se somarem, poderemos chegar a esse ciclo que chamamos velhice.
Será mesmo desagradável a velhice ou será que nós, por tradição, alimentamos essa cultura?
Se vencermos esses anos e tivermos a ventura de aconchegar ao colo os filhos dos nossos filhos, falaremos de felicidade.
Se, além disso, conseguirmos acompanhar a adolescência dos netos, vê-los conquistar lauréis, medalhas, ver desabrochadas suas faculdades, aplaudi-los no palco da existência, diremos que é uma glória.
Já vimos avós serem homenageados em casamentos de netos e até embalarem bebês, deles nascidos, seus bisnetos.
Convenhamos, conquistar os anos da velhice deve nos constituir uma meta.
Em regra geral, nenhuma fase da vida humana é deserdada dos dons da natureza. E muito menos das bênçãos de Deus.
Também cada ciclo tem suas próprias dores, suas próprias dificuldades. Por que haveria de ser o último quartel da existência mais triste que os demais?
Nosso olhar é que deve ser diferenciado para abranger essa grandeza que é a velhice.
É a fase em que recapitulamos todo o livro da vida. Temos o dom da experiência de épocas vividas, que nos confere a sabedoria das horas e das decisões.
Para isso, é preciso termos honrado a arte de envelhecer. Prepararmo-nos para os anos em que poderemos nos libertar de horas sacrificiais de trabalho profissional e nos dedicarmos a um voluntariado.
Servir aos nossos irmãos.
Ou exercitarmos uma arte que nos encante a alma, que nos traduza em contentamento os anos que nos restam.
Se chegarmos a essa tarde da vida, como alguns denominam a velhice, que seja uma tarde bela, de poentes em apoteose.
E se avançarmos na noite, que seja uma noite de vias-lácteas luminosas, de reflexos de estrelas.
Seja o momento em que podemos colocar em prática tantas ideias pensadas e acalentadas. Mergulhar a mente no conhecimento, dominar um novo idioma, praticar uma nova habilidade.
Diremos talvez das limitações, da enfermidade que nos abraça. Agradeçamos por somente agora a doença chegar como visita incômoda, quando tantas crianças e jovens a recebem, em seus verdes anos, tolhendo-lhes inúmeras possibilidades.
Se não pudermos correr, andemos. Se não pudermos escalar uma montanha, alegremo-nos em poder vencer alguns degraus.
Há tanto a fazer, a aprender, a concretizar. Conviver com a família, dispormo-nos a visitar um amigo, conhecer novas paisagens.
Mesmo que sejam somente as da nossa cidade, as praças que ainda não visitamos, as ruas pelas quais ainda não transitamos.
Usemos o tempo para a poesia, a beleza, a música. Encantemo-nos.
E se houver anúncios da indesejada das gentes que nos vem envolver em seu abraço, preparemo-nos e adentremos a nova vida, triunfantes, com a certeza de que usufruímos muito bem todos os nossos dias.
Redação do Momento Espírita, sob inspiração
da pt. 3, cap. XV, do livro O grande enigma,
de Léon Denis, ed. FEB.
Em 4.3.2025
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