Longe das verdades mais simples da natureza,
O homem se perde em mil inquietações.
Longe do abraço caloroso do bem e da beleza,
Somos complexa coleção de ilusões.
Eis, então, que vive em pranto a Humanidade,
Apartada do que é eterno.
Sem saber que é a afetividade
Que separa o céu do inferno.
* * *
Criamos nosso próprio estado de inferno interior quando nos apartamos das verdades mais simples da natureza.
Insistimos, pelas viciações morais, em criar necessidades falsas, e projetar em ilusões passageiras alguma possível felicidade.
Quantas inquietações no mundo atual...
Vejamos quanto a alta exposição das nossas vidas tem nos custado.
Em nome de uma vida em sociedade mais ativa, de criar mais conexões, acabamos escravos das redes sociais.
Temos que aparecer. Temos que postar. Temos que dizer isso ou aquilo a todo instante. Temos que emitir opinião sobre tudo.
Ao mesmo tempo, precisamos saber o que os outros estão dizendo, postando, escrevendo sobre todos os temas e até sobre nós mesmos.
Eis uma grande preocupação: será que estão falando sobre nós?
Se não falam, se não aparecemos nos comentários alheios, nos deprimimos. Se não recebemos número expressivo de visualizações é porque há algo de errado conosco.
Então, nos entristecemos.
Parece absurdo quando descrevemos assim... Pois é... Chega a nos parecer algo estranho, doentio.
Há uma grande distorção do que é uma vida em sociedade, uma vida de relação.
O problema não está nos instrumentos, na internet, nas redes sociais, de forma alguma. Está na maneira como temos nos servido deles.
Imaginemos se, numa roda de amigos, numa conversa informal, toda vez que expuséssemos uma ideia, as outras pessoas fossem obrigadas a levantar placas com aprovação.
Imaginemos se cada vez que saíssemos de casa, cada pessoa que cruzasse conosco precisasse dizer: Que lindo! Que elegante! Que charme!
Por que precisamos ser sempre o centro das atenções mesmo sem motivos significativos? Por que não basta estarmos bem com nós mesmos?
Aí entram as verdades mais simples. Aquelas que ainda não foram compreendidas.
Relações se constroem com trocas. Vínculos são laços de fraternidade. Pensemos: em nossas relações, o que temos oferecido aos outros?
Afetividade verdadeira se constrói com o tempo e não com curtidas.
Afetividade real se constrói no silêncio. Hoje só vou escutar. Sei que você não está bem e precisa. Não vou falar de mim.
Afeto de verdade é feito com auxílio. O que posso fazer para ajudar? Deixe que hoje eu faço isso por você.
São pequenos exemplos que mostram como se edifica algo em bases sólidas, altruístas.
São as verdades mais simples: amar é doar-se, em ações, em palavras, em oração.
Amar é construir laços permanentes. É suportar. É perdoar. É saber que estamos ao lado daquele outro ser por uma razão especial.
O amor nos retira de uma vida egocêntrica, pois quem deve estar no centro de tudo não é o ego, mas sempre o amor.
Redação do Momento Espírita, com versos do
poema As verdades mais simples da natureza,
de Nei Garcez e Andrey Cechelero.
Em 27.11.2024
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