Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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ícone Tratado da gratidão

Tomás de Aquino, frade católico italiano do século décimo terceiro, deixou importantes contribuições na área da teologia e da filosofia.

Naquele que ficou conhecido como o Tratado da gratidão, o estudioso analisa essa virtude e a classifica em três grandes níveis.

O primeiro nível da gratidão ele denomina superficial. É o nível racional, cognitivo, que presta ao outro apenas um reconhecimento por sua atitude.

O segundo nível é o intermediário, é o de agradecimento, que dá graças, que louva aquele que lhe prestou algum benefício. Vai além da simples manifestação da gratidão, mantendo-se a permanência desse sentimento.

Por fim, o último nível é o profundo, aquele em que nos comprometemos com o outro, com aquele que nos fez o favor ou a boa atitude. Ele apresenta um nível de vínculo entre as partes.

Curiosamente, as formas que as línguas do mundo encontraram para expressar a gratidão revelam com precisão esses três níveis.

Vejamos a palavra thanks do inglês ou do zu danken no alemão. Ambas nascem de berços similares. Estão ligadas ao pensar. O sentido primário foi, por isso, pensado, diz o dicionário de Oxford, ao explicar o thank.

Só é agradecido quem pensa, pondera, considera a generosidade do benfeitor e, quando isso não acontece, surge a queixa: Que falta de consideração!

Já a formulação latina de gratidão, gratia ago, que se projetou no italiano e no castelhano como grazie e gracias, e no francês merci, apresenta o nível intermediário.

Aqui se está dando graças àquilo que se recebeu com o coração, num nível emocional.

Por fim, temos o obrigado, na língua portuguesa, que pode ser compreendido como uma forma de agradecer de terceiro nível.

A formulação portuguesa, tão encantadora e singular, é a que se pode considerar como se situando no nível do vínculo, do comprometimento.

Quando se diz obrigado, se está dizendo: Fico comprometido, fico obrigado diante de você, da vida, de Deus, a algo mais.

É a proposta do vínculo entre as partes, assumida por aquele que recebeu o bem.

Não é a obrigação que prende, mas a obrigação ligada ao sentido da palavra dever, isto é, tudo aquilo que nos aproxima de cumprir as leis de Deus.

Assim, da próxima vez que utilizarmos essa palavra, recordemos disso, permitamos que nosso coração crie esse vínculo de gratidão para com o outro, uma obrigação espontânea, nossa para com nós mesmos, que faz ressoar alegria na alma.

Gratidão é partilha, é dividir com o outro a felicidade, a graça recebida, o bem que não é apenas meu, é nosso.

Por isso o vínculo. Por isso a ligação.

Obrigado, ligado, conectado a você da melhor forma possível.

Conectado pelos laços do bem e não da necessidade de pagarmos algo recebido que, por vezes, pode levar esse tipo de relação a um nível mercadológico, conduzindo de volta ao primeiro nível, o superficial.

Vinculado, agradecido, compartilhando a felicidade que é de todos nós.

Obrigado, amigo. Obrigado, Deus. Obrigado, Senhor Jesus.

Redação do Momento Espírita, com base na palestra
Formar professores para o futuro, do professor
 Antônio Nóvoa, em dezembro de 2014, na
 cidade de Matinhos, PR.
Em 4.11.2024

 

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