Da margem de cá
Tudo que parte
Parece desaparecer
A aeronave através das nuvens
O veleiro no meio das vagas
Os amores por entre as horas.
*
Quando observamos a vida apenas com as lentes limitadas de quem está na margem de cá, a visão é uma só.
Não deixa de ser bela, pois tudo precisa passar e isso faz parte da experiência do que é viver, do que é encarnar ou reencarnar na Terra.
No entanto, muitas coisas que aparentemente têm tons de definitivo, de fim permanente ou mesmo de destruição, não precisam ser vistas assim.
Começando pelo nosso próprio ser: será que é só isso? Criados no berço para sermos eliminados no túmulo?
Ou como afirmam outros, criados no nascimento para depois merecer ou não uma vida de felicidade eterna?
Parece pouco... Pensemos além e percebamos que podemos ir além. Já aprendemos a usar a razão. Já nos apresentaram opções e raciocínios que fazem muito mais sentido.
Tudo tem seu tempo. Logo iremos sentir, além de entender, que éramos, que existíamos, antes de estar aqui.
Sim, existíamos antes do berço. Trazemos bagagens, histórias, características e conquistas muito próprias e, principalmente, uma proposta de vida para a presente existência.
E assim como tão bem concluíra o filósofo grego Sócrates, centenas de anos antes da era cristã, se havia uma alma antes, naturalmente ela sobrevive depois da morte.
Exato. Somos seres de muitas experiências, que estamos progredindo através das eras, desenvolvendo inteligência e moralidade.
E a consequência lógica e maravilhosa disso é que se somos imortais, todos os que conhecemos também o são.
Por isso, podemos afirmar que os amores que parecem sumir por entre as horas; os amores que, por vezes, repentinamente, se despedem de nós, não deixam de existir.
Apenas mudam de endereço provisoriamente.
Não existe lado de cá nem lado de lá. Isso foi uma criação nossa, uma forma, talvez didática, para tentar entendermos que existem os planos material e espiritual.
Se quisermos nos servir dessa nomenclatura, podemos dizer que enquanto alguns permanecem estudando do lado de cá, outros, após findarem seu curso, estagiam no lado de lá.
No entanto, tudo é um só lado, apenas dimensões materiais diferentes.
Temos essa impressão, dolorida, de que nos despedimos em definitivo das pessoas.
Lembremos, porém, da figura do avião sumindo por entre as nuvens.
Ele continua sendo avião. Todos os passageiros continuam dentro dele. Em alguns minutos ou horas ele irá se aproximar de uma outra margem e realizará o pouso.
Da margem de cá não enxergamos essa parte da história. Não enxergamos a outra pista, os portões de chegada e nem a recepção nesse outro aeroporto, mas sabemos que é assim.
Temos que crer? Temos que acreditar para não sofrer tanto? Não! Precisamos ter certeza.
Pensar que a visão limitada que temos da margem de cá define tudo é presunção. Talvez, até arrogância de nossa parte.
Procuremos outras visões mais amplas. Felicitemo-nos em entender que a vida não morre, nem desaparecem os que partem antes de nós.
Redação do Momento Espírita, com versos do
poema Da margem de cá, de Andrey Cechelero.
Em 15.10.2024
Escute o áudio deste texto