Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável.
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas, o natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino.
Como aceito o frio excessivo no alto do inverno, calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita, e encontra uma alegria no fato de aceitar.
No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
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Alberto Caeiro, um dos nomes adotados pelo poeta português Fernando Pessoa, assina o poema que nos convida a reflexões profundas.
Aceitar o inevitável. Aceitar o que é natural que aconteça, sem reclamações, sem surpresas, sem demasiado sofrimento.
Sim, sem demasiado sofrer, pois a resiliência não nos impede de passar pelas dores e mesmo de sofrê-las.
A capacidade de se adaptar às mudanças nos fala em aceitação. Ainda, em entendimento: Para quê estou passando por isso?
Sentir frio, no alto do inverno, é inevitável. De forma alguma devemos negar que está frio. Essa negação seria um mecanismo psicológico perigoso.
No entanto, há uma diferença entre sentir o frio e revoltar-se contra ele, fazendo dele o assunto de todos os momentos, tornando-o o mal dos dias.
Não nos encontramos no inverno? No inverno não deve fazer frio? Portanto, aí está o frio. Essa é a linha de raciocínio do poeta, que podemos usar para uma vida de mais resignação.
Na resignação, não deixamos de buscar nos aquecer, de buscar a roupa quente, o cobertor ou até mesmo o calor do fogo. Simplesmente deixamos de permitir que o frio congele nossa alegria de viver.
Trazendo esse cenário para uma visão mais ampla de mundo, dos dias que vivemos, e mesmo de nós, Espíritos em evolução, podemos dizer que ainda vivemos o inverno.
São dias de lutas, são dias de sacrifício, de baixas temperaturas, que, por vezes, quase nos impedem de sair de casa.
Ainda vivemos o inverno em nosso mundo.
Não nos revoltemos, então, com o vento gélido que sopra do próximo em nossa direção, em muitas manhãs. Ele ainda vive em regiões polares no íntimo da sua alma.
Não nos queixemos das dificuldades de andarmos na neve, na pista escorregadia. Adaptemo-nos.
Saibamos, todavia, que o inverno é apenas uma estação.
Aprendemos na escola desde cedo qual a estação seguinte. Pois bem, ela chegará.
Dependendo de como estivermos vivendo os dias, podemos até estar conseguindo enxergar as primeiras flores desabrocharem logo adiante.
Dependendo de como somos, é bem possível que alguns de nós tenhamos aprendido certos truques para aguentar firme nos tempos invernais, mantendo-os sempre com ares de recomeço.
Faz frio no tempo do frio aqui no planeta.
Dentro de nós já pode estar diferente.
Aliás, dizem por aí que a próxima estação será belíssima e quem se mantiver firme para ver as flores dirá que valeu a pena toda a caminhada.
Sigamos juntos, neste final de inverno do mundo e tempo de mudanças tão grandes. Sem desânimo. Valerá a pena esperar.
Haveremos de sorrir muito quando a primavera encher de flores os corações.
Redação do Momento Espírita, com base no poema
Quando está frio no tempo do frio, do livro Alberto Caeiro/
Fernando Pessoa - Poemas Completos, de Alberto Caeiro,
ed. Saraiva
Em 7.10.2024
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