O século é fruto dos dias.
O rio nasce da fonte oculta.
A árvore procede do embrião.
A linha é uma sucessão de pontos minúsculos.
A jornada de cem quilômetros começa em um passo.
O discurso mais nobre principia com uma palavra.
O livro inicia com uma letra.
A mais bela sinfonia começa numa nota.
A seda mais delicada é uma congregação de fios.
Enfim, de bagatelas é elaborada a hora do homem.
*
Está na execução dos pequenos deveres a construção das grandes realizações.
Sem executar as tarefas menores, como se fossem de grande importância, jamais alcançaremos as grandes obras.
O caminho dos pequenos passos, das tarefas simples, quase anônimas, confere ao trabalho e ao trabalhador a simplicidade, virtude que deve assinalar nossa jornada, enquanto Espíritos em trajetória evolutiva.
Muitas vezes, o que chamamos grandes realizações não será exatamente aquilo que o mundo entende como grande. Pode, inclusive, passar invisível aos olhos do mundo apressado e essencialmente materialista.
O filme Dias perfeitos, do cineasta alemão Win Wenders, traz um personagem fascinante: Hirayama, um limpador de banheiros públicos na cidade de Tóquio.
Impressiona a maneira como o protagonista constrói seus dias perfeitos. Não são dias de grandes realizações, de grandes acontecimentos ou em que tudo dá certo.
São dias em que ele realiza com extremo detalhamento e cuidado suas tarefas. Na maioria das vezes, tarefas invisíveis para as pessoas da cidade, mas que, se não forem bem realizadas, farão muita falta.
Há simplicidade na vida de Hirayama.
Há sensibilidade em perceber tudo ao seu redor, desde a luz passando pelas folhas das árvores ao convívio harmônico com os companheiros de trabalho, tão diferentes dele.
Até em notar um morador de rua e suas peripécias incompreensíveis.
Seus dias perfeitos são feitos de bagatelas, de pequenas coisas, que quase ninguém valoriza. Aquelas que se perderam na vida atribulada das cidades grandes, principalmente.
Vale a pena refletir: Como estamos realizando as pequenas tarefas?
A arrumação de um quarto, de uma estante de livros. A lavagem da louça, do chão de nossa casa.
Como organizamos nossas coisas? Nossa mesa de trabalho, nossos documentos?
Para os ansiosos, aqueles que querem abraçar o mundo de uma vez só, a execução dos pequenos deveres, das pequenas metas diárias, é um tesouro.
Importante traçarmos grandes objetivos. Entretanto, igualmente importante nos indagarmos: Que faremos hoje? Agora? Em que podemos dar o melhor neste exato instante?
Em que podemos ajudar? Quem precisa de nós?
As oportunidades de sermos úteis estão aí. E nada faz tão bem para tornar nossos dias perfeitos do que auxiliar o próximo.
Dias perfeitos são construídos por bagatelas de amor. Amor aos detalhes. Amor no compromisso, na responsabilidade. Amor aos que estão ao nosso redor. Amor a nós mesmos.
Dias perfeitos são dias em que nos sentimos mais próximos de nós mesmos e, por consequência, mais próximos de Deus.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 13, do livro
Endereços da paz, pelo Espírito André Luiz, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. CEU e no filme
Dias perfeitos, de Win Wenders.
Em 10.10.2024
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