Cansado coração, ouve, lá fora,
o turbilhão do temporal violento.
Cai o granizo, ruge a voz do vento...
É a natureza que se desarvora.
O firmamento é anônima cratera,
quando o raio estraçalha a noite escura.
E choras, ante o caos e a desventura,
a prova que te ensombra e dilacera.
Ao furacão que passa, caem ninhos,
tombam troncos, a ímpetos medonhos
e recordas as pedradas dos caminhos,
que varaste perdendo os próprios sonhos!...
Espera e crê!... O temporal vai longe!...
Amanhã seguirás em nova estrada
e, ao teu olhar, a luz será mais linda,
quando o sol acender a madrugada...
*
O canto de esperança dos versos poéticos consola o coração aflito.
Entendemos o quanto é difícil vislumbrar o momento futuro, esse instante em que o sol acenderá a madrugada, quando ainda estamos no olho do furacão.
Entendemos o quanto é difícil manter o ânimo, sorrir, conservar a coragem. Mas esse novo sustento da alma é a fé no futuro.
Não uma fé cega, que idealiza algo que pode vir a acontecer. Não. Aí está o ponto crucial. É a fé do homem, no meio da madrugada escura, que de repente recebe um relógio mostrando as horas.
A partir desse momento ele sabe que, depois da quinta ou da sexta hora, o sol começará a surgir.
Sabendo disso ele mantém o ânimo. Ele suporta um pouco mais. Ele acaricia a esperança em seu coração. E espera confiante. Talvez, até com alegria.
A madrugada, o temporal, a seca, a dor podem parecer intermináveis. Porém, tudo tem tempo limitado. Tudo passa.
Por vezes, inclusive, dependendo apenas de nós mesmos, pois podemos perceber que algumas escuridões da existência fomos nós que criamos, trancando-nos em quartos escuros voluntariamente.
E se ainda estamos na madrugada, por que não perceber o que ela tem a nos ensinar? Madrugada não é hora perdida. Nenhuma hora é perdida na Criação divina.
Por que permanecemos na madrugada por tanto tempo? O que nos prende? O que nos prende a este ou àquele vício, a este ou àquele sentimento negativo?
Madrugada é tempo de aprendizado, pois aprendemos na dor. E certas dores são inevitáveis. A dor é recurso didático. Com ela aprendemos conteúdos esplêndidos.
Se no momento isso nos parece absurdo, é porque ainda estamos impregnados pela cultura da busca pelo prazer a todo custo.
Não queremos sentir dor. A dor é inimiga. O prazer é a solução para nossas vidas.
Ideia distorcida que carregamos há séculos e séculos.
Ideia que nos fez chegar a extremos como comprar experiências ou promessas de prazer imediato, mesmo que momentâneos.
Por outro lado, consumimos drogas que nos impedem de sentir qualquer tipo de dor, de desconforto.
Vejamos onde chegamos...
É preciso entender a dor com o que ela tem a nos ensinar.
Aprendamos com as horas da madrugada. E seguremos o relógio da esperança, da fé, que nos assinala que logo mais o sol acenderá a madrugada.
Apesar da treva mais densa, da hora mais escura, o sol sempre retorna, brilhante e soberano.
Aguardemos.
Redação do Momento Espírita, com base no poema
Depois do temporal, de Casimiro Cunha, do livro Estrelas no chão,
por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier,
ed. GEEM.
Em 15.8.2024.
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