Quando o diagnóstico chegou alarmante, com uma sentença de morte, o maior dilema de Carlos e Melissa foi como iriam dizer às crianças.
Como falar para os filhos de quatorze, treze e sete anos que o pai iria morrer, em poucos meses?
Esperançosos de que a simplicidade e a verdade, envoltas em amor e segurança, facilitassem de algum modo a inevitável tristeza, preferiram revelar a verdade.
Queriam que eles soubessem que deveriam aproveitar cada minuto ao lado do pai, como algo precioso a ser registrado na memória do amor.
Carlos decidiu que seus dias, embora contados, não seriam tristes. Era preciso ir tocando a vida, como fosse possível.
Planejou o seu funeral, sem atavios, estipulando a quantia que deveria ser gasta, para que não onerasse o orçamento familiar.
Enquanto as forças lhe permitiram, compareceu à cabeceira da mesa para as refeições com a família. E seu bom humor não era fingimento.
Ele desejava que os filhos não sofressem o luto antes da sua partida.
Nas recomendações, para o futuro, brincava: Sua mãe não sabe somar, esquece as coisas, queima a comida muitas vezes.
Mas ela sabe escrever bilhetes bonitos, cuida de vocês e os ama. Não esqueçam disso.
Ela precisa da ajuda de vocês agora e depois.
Passo a passo, a cada dia, as sementes foram sendo plantadas.
E a cada noite, quando se preparavam para o sono, havia declarações recíprocas de afeto: Amo você, papai.
Amo vocês.
A sós, com os filhos, Melissa os preparava: Quando seu pai se for, as pessoas vão chorar na capela e no cemitério.
Nós também choraremos. As pessoas lhes falarão sobre seu pai, como elas o viam. Lembrarão até de coisas engraçadas que aconteceram e poderão rir.
Pode parecer estranho rir numa hora dessas, mas é o que acontece.
Carlos morreu no hospital apenas vinte e quatro horas depois do internamento. Melissa retornou ao apartamento, mergulhada em tristeza. Os filhos correram para saber: Como está papai?
Ela pensara durante o trajeto do hospital para casa, em tudo que poderia dizer a eles, como lhes daria a notícia. Mas havia tanta tristeza em sua alma, que ela somente disse baixinho: Morreu.
Choraram juntos. Quando eles quiseram saber quais tinham sido as últimas palavras do pai, embora Melissa não lembrasse exatamente o que ele dissera, pelo drama dos últimos momentos, buscou forças no mais íntimo da alma e interpretou o desejo dele: Beije as crianças por mim.
E a mensagem que ficou para toda a família é de que a morte não mata o amor.
Então, foi chegando a calma. O pai lutara heroicamente com a doença que lhe minara as forças e sugara a vida. Deixara uma mensagem de nobreza para cada um deles.
Semeara amor e esperança. Esperança de que ele prosseguiria a viver, depois que a morte lhe alcançasse o corpo.
Haviam vivido conjugando amor, fortalecendo-se mutuamente. Eles sabiam que o pai, onde estivesse, continuava a olhar por eles. E isso lhes permitiria viver os dias futuros, com saudosa serenidade.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Como contar às crianças que o papai vai morrer, de
Muriel Fischer, da Revista Seleções Reader's Digest,
de janeiro/1980.
Em 8.8.2024
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