Muitas vezes imaginamos que ser livre é fazer tudo o que queremos, a qualquer tempo, em qualquer circunstância.
Poder agir sem qualquer cerceamento.
Pensamos que livre é a pessoa que age sem controle ou parâmetros, conforme pense ou queira.
Porém, se refletirmos, veremos que não é disso que se trata a verdadeira liberdade.
Se fazemos tudo o que queremos, sem pensar nem analisar a questão, estaremos agindo por impulso, ou levados pelas nossas paixões.
Em outras palavras, estaremos demonstrando que somos escravos de nossos vícios e desejos.
Por esse motivo, o filósofo Immanuel Kant afirmou que somente somos livres quando fazemos o que não queremos.
Quando racionalizamos, pensamos, ponderamos antes de agir, exercemos nossa verdadeira liberdade.
Não nos tornamos escravos de nossas paixões e exercemos a autonomia da vontade que, iluminada pela razão, nos permite agir com liberdade de escolha.
Quando a razão nos leva a ponderar e refrear nossos impulsos e a ela obedecemos, nossas ações são lúcidas.
Se abrimos mão de uma vontade impulsiva, obedecendo aos ditames da razão, para um melhor comportamento, estamos nos servindo de nossa liberdade.
E expressamos, em nossas atitudes, que estamos moralmente ajustados.
Contudo, em alguns momentos da vida, temos dificuldades em ouvir a razão.
Por exemplo, quando nos sentimos devastados pela partida dos nossos amores, arrebatados pelo fenômeno da morte.
Ante o desespero que nos domina, não conseguimos encontrar motivos e não há lógica ou razão que nos ampare.
Ou, se somos surpreendidos pela traição de um amigo ou de um ser muito amado, falecem-nos as forças para entender o porquê da situação.
Nesses casos, a resignação é a melhor regra.
Quando não há o que fazer, quando o controle da situação nos escapa, cabe-nos buscar outro caminho, evitando que nos permitamos agir sem freio nem reflexão.
Ao entendermos que tudo que a razão nos orienta realizar foi feito, que os recursos que estavam ao nosso alcance foram buscados e, mesmo assim, desastres nos alcançaram, é momento de refletir.
Para tudo há um motivo em nossa existência.
Se a lógica não consegue nos ajudar a compreender os porquês, a resposta está em nos servirmos da resignação.
Não no sentido puro e simples de meramente nos conformarmos, mas de entendermos que não há outra maneira senão aceitar o que não podemos modificar.
Se a morte roubou afetos, de nada valerão nossa raiva, nossa revolta. O recurso que nos resta é buscar explicações na lei natural da vida e da sobrevivência do ser.
Se dores profundas nos alcançam, apesar de todos os nossos empreendimentos no sentido de as evitar, convenhamos que o que nos compete é retirar o melhor proveito da experiência, qualquer que ela seja.
Assim, encontraremos força e coragem para enfrentar as dores, amparados no entendimento dos desígnios superiores que regem a vida como um todo, através de leis naturais e divinas.
Escute o áudio deste texto