Sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir. É lembrar hoje o que se sentiu ontem, afirma categoricamente o poeta Fernando Pessoa, em um de seus versos.
Segundo ele, viver é ser outro, é apagar tudo do quadro de um dia para outro, ser novo com cada madrugada.
Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser.
Será que já refletimos dessa forma? Que viver é ser algo novo a cada instante?
Começando pela encarnação, pelo renascer. Somos Espíritos antigos, sem dúvida, mas não somos os mesmos. A cada momento que passa vamos nos transformando e toda experiência vai mudando algo em nós.
Por isso nunca somos os mesmos que fomos uma hora atrás.
O quanto de novo cada um de nós escolhe ser é de cada um.
Alguém poderia perguntar: Mesmo aqueles que aparentemente não saem do lugar estão vivendo? Estão sendo outros?
Curiosamente, não sair do lugar, permanecer onde está, é também uma escolha. Então, sim, estamos sendo outro. Um outro que anda de lado muitas vezes, mas que não deixa de estar experimentando a vida de formas diferentes.
Percebamos que, mesmo quando desejamos permanecer parados por anos e anos, séculos, o Universo, que está em constante movimento, em constante revolução, encontra uma forma de nos mover. As leis divinas são irresistíveis.
Viver é ser outro.
Pensemos em como isso se aplica em cada novo dia.
Hoje acordamos outro. Então, demo-nos a chance de agir assim, com mais lucidez, percebendo tudo à nossa volta de uma maneira um pouco diferente do que percebemos ontem.
Se dormimos, em nossa cama, por umas sete horas, estivemos viajando mais de setecentos e cinquenta mil quilômetros pelo espaço!
Isso significa que não estamos mais nem no mesmo lugar do Universo. Em sete horas viajamos o correspondente a dezenove voltas no planeta Terra inteiro ou cerca de quarenta voos entre São Paulo e Tóquio.
Viver é ser outro, é estar sempre em outro lugar.
O poeta ainda complementa dizendo que o amanhã será ainda uma outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma visão nova.
Tudo na natureza está em constante renovação. Estamos incluídos nessa lei.
Não acreditemos nas ideias pessimistas, comodistas, que pregam a incapacidade de evoluir do ser humano. São visões limitadas sobre questões que precisam ser vistas do Alto.
O Espírito muda, sim. Há evolução das almas, quando nos comparamos com o que éramos alguns séculos atrás.
Somente a visão espiritualista, imortalista da vida consegue explicar com exatidão essas questões.
Viver é ser outro. É receber a oportunidade de refazer caminhos, de começar de novo, de começar melhor.
Viver é redenção. É poder devolver ao mundo o que tiramos dele, através do nosso trabalho e esforço pelo bem comum. É devolver o mal que praticamos em alguma fase da jornada, com uma boa dose de amor.
Viver é ser outro. É apagar tudo do quadro de um dia para outro. Ser novo com cada madrugada.
Redação do Momento Espírita, com citação do item 94
do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa,
ed. Ciranda Cultural.
Em 7.6.2024
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