Não posso me perdoar. Se eu tivesse chegado antes, teria evitado a tragédia.
Se eu não tivesse falado, isso não teria acontecido.
Essas são expressões que se ouvem, vez ou outra, ante mortes acidentais ou provocadas.
A promotora pública se questiona se foi dura demais ao denunciar as ações equivocadas do colega de trabalho, quando recebe a notícia de que ele optara por fugir da vida, a fim de evitar as consequências dos seus atos.
O marido, que prometera à esposa ir para casa após o show que faria, entra num processo de autopunição porque preferiu ficar com os amigos e fãs até mais tarde, em festa que lhe foi oferecida.
Ela, sozinha no rancho, aproveitou a lua cheia para uma cavalgada noturna, pela propriedade.
Indo além de certos limites, foi surpreendida por terreno lamacento e escorregadio, provocado pelas chuvas intensas do dia anterior.
Sem jamais se saber com exatidão o que aconteceu, a cavalgadura retornara sozinha ao celeiro, enquanto o corpo da senhora foi descoberto, horas depois.
A partir daí, o marido deixou literalmente de viver. Não dá atenção aos três filhos.
Em verdade, como desabafa a menina adolescente: Naquela noite, perdemos nossa mãe e nosso pai. Você deixou de existir para nós, pai, desde então. E não nos permite viver.
Proibiu que cantássemos, que nos divertíssemos, que comemorássemos o Natal. Há dois anos, papai, você morreu com a mamãe.
Mas nós precisamos de você, dos seus cuidados, do seu amor. Precisamos que nos ajude a continuar a viver.
* * *
O remorso é um atestado de desenvolvimento moral do ser. No entanto, deve ser somente a constatação de um ato que deve ser corrigido, tanto quanto possível.
Alimentado, pode ser comparado a uma serpente de mil voltas, que circula em torno do coração e o destrói.
É o remorso que nos acusa, de forma constante, nos fazendo reviver o dito, o feito ou não feito.
Não alimentemos esse sentimento destrutivo. Se algo fizemos errado, que tenhamos a consciência e nos arrependamos.
Se for possível corrigir a falta cometida, o façamos. Mas não nos eternizemos na culpa, mesmo porque, em alguns casos, fazemos muito mal não somente a nós mesmos.
Também àqueles que dependem de nós, que nos aguardam o socorro, o arrimo.
Quanto a denúncias ou comentários que venhamos a tecer a respeito de outros, lembremos que se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá em divulgá-las.
Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas.
Exemplos históricos nos levam a pensar em como a autopunição e o remorso inconsequente somente nos podem infelicitar.
O infeliz Judas, após a traição, busca sua autopunição, retirando-se da vida, infelicitando-se ainda mais.
Pedro, no entanto, tão próximo de Jesus, que O nega por três vezes, redime-se, entregando-se ao próximo, à divulgação da Boa Nova, sem tréguas.
Aprendamos com os bons exemplos.
Redação do Momento Espírita, a partir de cenas do
Filme Guiado pelo luar e no cap. X, item 21, de O
Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
ed. FEB.
Em 20.5.2024
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