Eles estavam casados há anos. Nádia, a esposa, era caprichosa, amorosa e dedicava-se a manter a casa como um verdadeiro lar, material e psiquicamente.
Apreciava que as coisas estivessem em seus lugares, evitando bagunça e desarranjos.
No entanto, o marido deixava tudo fora do lugar. Quando precisava de algo, era uma verdadeira balbúrdia, porque perdia um tempo enorme procurando.
Quando precisava sair, não sabia onde deixara as chaves. Na hora do banho, não lembrava onde largara a toalha, e assim por diante.
Nádia pedia com delicadeza que procurasse dar a cada coisa seu devido lugar, poupando-lhe tempo e estresse, também deixando a casa com jeitinho de lar aconchegante.
Nada o fazia alterar sua conduta. Então, certo dia, quando ao jantar, ele lhe perguntou como fora seu dia, ela respondeu:
Foi maravilhoso. Passei as horas a conversar com as coisas.
Com as coisas? Que coisas? Você está endoidecendo?
Não, continuou ela, sorrindo. Estou muito bem. Acontece que cada coisa que eu recolhia falava comigo.
Por exemplo, o chinelo me disse que estava triste porque fora deixado no meio da sala e não sabia onde estava o seu parceiro.
O sapato, aproveitando a deixa, disse que ele também gostaria de estar ao lado dos demais calçados, na sapateira.
Quando fui recolher os copos espalhados pela casa, ouvi deles muitas queixas. Diziam que se sentiam como pedaços espalhados por toda parte.
O jornal, então, até gritou. Não sei bem qual foi a folha que também se sentia jogada, abandonada.
Os livros, por sua vez, suspirando, disseram que gostariam muito de que quem os procurasse os encontrasse no seu lugar, para não perderem tempo, à procura do volume que desejassem ler ou pesquisar.
As chaves foram as que riram muito. Falaram que se divertem. Jogadas, de forma aleatória, escondem-se debaixo do jornal, da toalha.
Confessaram que dão muitas risadas quando são procuradas.
Então, querido, como vê, todas as coisas falaram muito comigo, hoje.
E eu as ouvi, uma a uma, colocando todas nos seus devidos lugares.
O marido, que deixara o talher ao lado do prato, sem ousar sequer ir se alimentando, enquanto ouvia, estava admirado.
Sua esposa era uma pessoa incrível. Encontrara uma forma especial de lhe chamar a atenção. Sem agredir, sem reclamar. Ao contrário, de uma maneira criativa e terna.
Rendeu-se ao apelo amoroso e disse ao final:
Entendi, querida, prometo que serei mais cuidadoso, de hoje em diante. Vou me esmerar para colocar tudo no seu lugar certo.
* * *
A historieta é uma ficção, mas bem podemos aproveitá-la para pensarmos em como resolver questões que, por vezes, nos irritam, usando de diplomacia.
Usar a criatividade, não perder a amorosidade, falar no momento próprio, num diálogo descontraído e salutar.
Quando chamamos a atenção de um filho, do cônjuge, de um companheiro de trabalho, vejamos como podemos fazê-lo sem criar desajustes, situações constrangedoras ou até antipatias.
Pensemos a respeito. Tudo podemos dizer desde que saibamos como e quando dizer: fórmula correta. Momento adequado.
Redação do Momento Espírita, a partir de historieta
do artigo As coisas falam, de Dorothy Jungers Abib,
do jornal O Clarim, ed. O Clarim.
Em 2.5.2024.
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