Quem tem filhos ou viaja com crianças está habituado ao esquema. Os dias que antecedem a viagem são de alvoroço e planos sem fim.
Os pequenos vão amontoando, isso mesmo, amontoando tudo que acreditam seja importante levarem consigo: brinquedos, roupas, pequenos objetos.
São tantos itens que, na fase final, é preciso que os adultos negociemos com eles, retirando alguns, substituindo outros.
O dia anterior ao da partida é de tanta ansiedade que, por vezes, os pequenos nem dormem.
Por fim, bagagens no carro, tudo providenciado, começa a viagem.
Nos primeiros momentos, é só alegria. Há cantos, brincadeiras, gritos de felicidade, exclamações de surpresa pelo inusitado da paisagem, pelas novidades do caminho.
Mas as horas passam, a monotonia se instala. Afinal, o verde do campo se repete, o céu é azul neste quilômetro como naqueles deixados para trás.
Tudo vai perdendo o encanto e começa a cantilena:
Falta muito?
Quando a gente vai chegar?
Estou cansado. Quero parar. Eu quero...
* * *
Podemos comparar essa viagem à nossa vida. Nós somos as crianças.
Antes de nascermos, nos preparamos. Tudo é uma grande expectativa.
Fazemos planos, tantos que nosso anjo de guarda providencia a retirada de alguns. E adaptação de outros.
Tudo nos parece maravilhoso. Uma nova vida.
Fazemos planos para os verdes dias da infância, em que redescobriremos os segredos das letras, dos números, das cores e dos sons.
Teceremos outros para a jornada da adolescência, as incursões no campo dos afetos.
Sonhos. Planos. Sabemos que não será tudo cor de rosa. Haverá dias de tempestade, de carências.
Mas a possibilidade de refazer a jornada e chegar ao fim, recolhendo os louros da vitória, nos enche de vontade de vir, de fazer, de realizar.
Porém, a viagem, às vezes, se alonga. Os dias vão se sucedendo com as lutas se repetindo, os desafios se reprisando.
Decepções aqui, desajustes ali. Um amor que não deu certo. O negócio que faliu, a saúde que foi abalada.
Os dias já não parecem tão belos, tão ricos de cores.
Então, exatamente como as crianças, reclamamos ao Grande Pai: Quando chegaremos ao final disso tudo?
Quando esse sofrimento acabará? Quando poderei respirar um pouco mais livre? Quando?
Pensemos: viver é um desafio. Ter nascido é uma vitória. Cada dia vivido é uma batalha vencida.
Não nos permitamos o desânimo. Depois do cansaço da viagem, chegaremos a local maravilhoso e desfrutaremos de risos, beleza, encontros e reencontros.
Retornaremos ao grande lar. E que sejamos vitoriosos, superadas as questões mais delicadas, resolvidos os problemas intrincados, solucionadas as pendências.
Para isso nascemos. Todos. Não estamos sós.
Temos amigos, temos nosso anjo de guarda, temos Deus.
Não desistamos da viagem. Não queiramos que o carro pare para saltarmos, cairmos fora.
Prossigamos até o final.
Amores do ontem nos aguardam junto aos Espíritos do bem, que avalizaram nossa presente encarnação.
E todos esperam que cheguemos suados, cansados, mas felizes. Porque fomos até o fim. Porque persistimos, porque não desistimos.
Redação do Momento Espírita.
Em 24.4.2024.
Escute o áudio deste texto