A paz invadiu o meu coração,
De repente me encheu de paz,
Como se o vento de um tufão arrancasse os meus pés do chão,
Onde eu já não me enterro mais.
Os versos da canção conquistam os nossos corações ao propor uma paz diferente, que nos ergue do chão e nos liberta dos conflitos rasos do mundo.
Jesus, falando sobre a paz, disse: A minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem tenham medo.
A paz do Cristo é plenitude. A do mundo é temerária, pois que está assentada na impermanência das coisas, portanto, passageira.
Essa paz do Cristo não é aquela conquistada com a segurança financeira, ou um trabalho bem remunerado, ou uma família feliz, ou ainda a alegria pelo reconhecimento das convenções mundanas.
Tampouco é o oposto da guerra, porquanto Jesus jamais deixou de estar em paz, mesmo cercado pela violência e egoísmo dos adversários. Nem pela fraqueza e covardia momentânea dos amigos.
Curiosamente, ainda falando sobre a paz, o Mestre nos disse que não viera trazer paz à Terra, mas a espada.
Por isso, separaria o pai do filho, a mãe da filha e a sogra da nora. E completou afirmando que os homens teriam por inimigos os de sua própria casa.
Moral estranha que, tomada em sentido literal, seria em tudo contrária ao que Ele pregou e exemplificou enquanto esteve conosco.
Mas para fugirmos da letra que mata, como nos asseverou o Apóstolo Paulo de Tarso, e nos atermos ao espírito da mensagem, basta refletirmos sobre o comportamento do homem que progride moralmente e comprovaremos, facilmente, a justeza das palavras de Jesus.
Esse novo homem que emerge da nossa reforma íntima, de pensar e agir renovados, buscará se relacionar com quem senão com aqueles que lhe são iguais no pensar e no sentir?
Num processo natural, ele tenderá a separar-se emocional e psicologicamente de alguns dos seus antigos amigos. Até mesmo de alguns familiares, haja vista não mais encontrar neles a ressonância para o seu novo modo de ser.
Dessa forma, a espada que Jesus nos afiançou que traria à Terra é o símbolo do autoconhecimento, que nos aparta do passado de erros e do convívio com aqueles que ainda são escravos das coisas do mundo. Os que representam os interesses puramente materiais, que já não nos satisfazem.
Não entendamos que, ao nos melhorarmos, abandonamos nossos pais, irmãos e amigos. Porém, o interesse comum, que antes nos unia, agora não é mais objeto de nosso desejo.
Por isso, entre nós, é estabelecida uma guerra de ideais, a nossa casa interior fica dividida entre o homem velho e o homem novo.
* * *
Somente quando vencermos a predominância da matéria sobre o nosso Espírito obteremos a paz verdadeira, conquista do nosso Espírito imortal.
Para isso, o autoconhecimento é a espada simbólica para guerrear e vencer as nossas imperfeições. Então, a paz verdadeira nos alcançará, iluminando nosso caminho por toda a existência.
Nesse dia, a paz invadirá os nossos corações. Nossos pés sairão do lamaçal dos erros, permitindo que brilhe a nossa luz.
Redação do Momento Espírita, a partir da palestra
A paz invadiu meu coração, de Mary Ishiyama,
realizada no Teatro da FEP, em 24.12.2023.
Em 12.4.2024.
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