As histórias a respeito de Francisco Cândido Xavier não cessam de nos surpreender.
Conta um jornalista, de nome Fernando, que tendo conhecido o médium mineiro, em dolorida ocasião de sua vida, em que um ser querido fora levado pela morte, dele se tornou amigo.
Várias vezes se deslocou a Uberaba, no Estado de Minas Gerais, para assistir às suas sessões públicas, abraçá-lo, sempre em gratidão.
Regressando de uma viagem que fizera à Itália, escreveu a Chico, dizendo que, em Pompeia, em uma loja de souvenirs, instalada dentro das ruínas da cidade submergida nas lavas do Vesúvio no ano 79, da nossa Era, adquirira uma peça de rara beleza.
Tratava-se de um azulejo no qual era reproduzida a pintura de uma jovem romana colhendo flores no campo. Informava Fernando que, por via postal, lhe enviaria a delicada lembrança.
Em resposta, Chico Xavier ponderou que talvez a relíquia pompeiana (como ele a chamou) pudesse se quebrar no trajeto postal.
Sugeriu que ele aguardasse uma viagem a Uberaba para que lhe fosse entregue pessoalmente.
Algum tempo depois, a entrega se concretizou.
Chico Xavier tomou nas mãos o azulejo, parecendo embevecido. Ficou olhando longamente a pintura da nobre e esbelta figura da jovem romana, carcomida pelo tempo e com visíveis rachaduras na reprodução do original.
Depois, escreveu uma dedicatória na face posterior da peça e a devolveu às mãos de Fernando, dizendo: Agora, peço que você a leve de volta. Guarde-a com você.
O amigo ficou surpreso. Ele sabia que médium espírita não recebe presentes, nem aceita recompensas materiais, no entanto, era uma lembrancinha tão simples. Ele a trouxera de tão longe...
Por que você não a aceita, Chico? Eu a comprei pensando em você, para você.
A resposta foi surpreendente: Sim, ela é minha. Eu a guardei em minha retina espiritual. Peço a você e aos seus familiares que sejam os guardiães da preciosa relíquia.
E finalizou com um Deus nos abençoe sempre.
* * *
Lição de desapego. Que verdadeira posse essa que se armazena no baú das memórias doces, lembrando carinho de amigos expresso em mimos delicados.
Alguém que viaja e, nas terras distantes, lembra-se de nós. Adquire algo da região, como a desejar compartilhar a sua ventura conosco.
Normalmente, costumamos expor essas preciosidades com que somos brindados em lugares privilegiados de nossa casa, do nosso ambiente de trabalho.
Quando as vemos, lembramos do doador. E não deixamos de nos gratificar quando alguém elogia a beleza, a delicadeza do objeto.
Tratamos aquela peça como se fosse um pedaço do coração de quem no-la ofereceu e, se ela se quebrar, parece que quebramos junto.
Talvez devêssemos pensar mais no gesto do que no objeto, mais na afeição do amigo do que na peça, por mais rara seja.
Afinal, tudo que é material pode vir a se romper, estragar.
Guardemos, sim, o mimo que representa carinho de quem no-lo ofereceu. Mais que isso, fotografemos com a alma para que o registro fique para sempre na intimidade da memória espiritual, que não acaba.
O gesto vale mais do que a peça. E este não o devemos esquecer jamais.
Redação do Momento Espírita, com fato extraído do
cap. Da ciência de viver, do livro A ponte, de
Francisco Cândido Xavier e Fernando Worm,
ed. FERGS.
Em 8.4.2024.
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