Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone A última folha

O escritor americano William Sidney Porter conta a história de duas jovens pintoras que foram residir em Nova Iorque.

O frio de dezembro chegou com grave epidemia de gripe e Joana ficou acamada. Apesar dos cuidados médicos e da amiga Suzana, não melhorava.

Ela não reagia. Ficava deitada em sua cama, olhando para a parede branca do prédio do outro lado da rua.

Quando Suzana comentou que a febre baixara e que em dois dias elas poderiam viajar para a Flórida, para a total recuperação, Joana respondeu, desanimada:

Três dias atrás havia quase cem folhas na parreira que sobe pela parede. Estou contando. Hoje tem somente dezenove. Quando a última folha cair, eu vou morrer.

A amiga tentou dissuadi-la dessa ideia. Afinal, que relação poderia haver entre as velhas folhas de uma parreira e a recuperação da saúde?

E ordenou: Pare de olhar por essa janela. Prometa-me.

Está bem, disse a enferma, com a certeza de que não cumpriria a promessa.

No andar de baixo, morava um senhor de oitenta anos. Chamava-se Bernardo. Pintor frustrado por jamais ter conseguido produzir uma obra de valor, considerava-se protetor das duas jovens artistas.

Portador de um tumor nos pulmões, não desejava se internar para tratamento.

Suzana lhe falou que temia que Joana partisse logo porque se convencera de que quando caísse a última folha da parreira, ela morreria.

Naquela noite, caiu uma chuva miúda e insistente. Suzana nem teve coragem de olhar pela janela.

Mas, no dia seguinte, acordou com a amiga sacudindo-a eufórica:

Venha ver. Mesmo com a chuva e o vento, uma folha continua dependurada na parreira.

É um sinal, gritava Joana. Deus está segurando a folha para eu não morrer. Vou viver. Deus quer que eu viva.

Nos dias seguintes, a folha permaneceu firme. Desapareceram a febre e a tosse. Poderiam viajar.

Antes de embarcar, Suzana providenciou o internamento de Bernardo, cujo estado piorara.

Foram quinze dias maravilhosos ao sol e no calor da Flórida. Quando retornaram, souberam que o amigo pintor desencarnara.

Joana foi se dirigindo ao apartamento e indagando: Será que ainda verei a folha de parreira?

Com certeza, a verá, respondeu Suzana.

Importante saiba que, quando Bernardo soube que você colocara em sua cabeça que iria morrer quando caísse a última folha da parreira, ele enfrentou o frio e a chuva da madrugada e pintou a folha na parede do prédio em frente à sua janela.

Foi a obra-prima da sua vida.

As amigas se abraçaram, emocionadas e agradecidas. Aquele senhor talvez até tivesse piorado as suas próprias condições de saúde, sacrificando-se em favor da jovem.

*   *   *

Esta história nos fala do quanto atua a nossa mente em nosso estado de saúde.

Também nos fala de uma amizade, que beira a renúncia em favor do outro.

E nos diz que sempre existe algo que possamos ofertar a alguém. Por vezes, frente a graves problemas, dizemos: Que posso eu fazer?

Nem nos damos conta de que um abraço, uma história que emocione, uma canção que conforte, uma pintura na parede podem ser, como dizem, um santo e eficaz remédio.

Que tal experimentarmos?

Redação do Momento Espírita, com base no artigo Jesus,
o Divino Médico, de Sidney Fernandes, da revista
 
Reformador, ano 141, nº 2337, dezembro.2023,
ed. FEB.
Em 5.4.2024.

 

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