Com fúria e raiva acuso o demagogo
e o seu capitalismo das palavras.
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
que de longe muito longe um povo a trouxe
e nela pôs sua alma confiada.
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra, a flor, a água
E tudo emergiu porque ele disse.
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra.
* * *
A palavra é instrumento valioso, dado por Deus para permitir o intercâmbio entre os homens.
No entanto, por leviandade, muitas vezes a utilizamos, de forma indevida.
Poucos somos os que nos servimos desse dom com a necessária sabedoria, de modo a construir esperanças, balsamizar dores e traçar rotas de segurança.
Falamos muito por falar, "matar o tempo".
Em muitas ocasiões, convertemos a palavra em estilete da impiedade, em lâmina da maledicência, em bisturi da revolta, golpeando às cegas ao império das nossas paixões.
no entanto, poderíamos nos servir dela para modificar estruturas morais, acionando a tolerância, a solidariedade, a compreensão.
Semelhantes a gotas de luz, as boas palavras diluem conflitos, resolvem enigmas, mistérios e dificuldades.
Exemplo do bom uso da palavra foi o grego Demóstenes. Vencendo a gagueira, pela sua oratória, legou ao mundo importante expressão da capacidade intelectual de Atenas. Também um olhar sobre a cultura da Grécia antiga.
Falando, heróis e santos reformularam os alicerces de comportamentos ancestrais, propondo uma era melhor.
Mas foi também falando que Hitler hipnotizou multidões enceguecidas que se atiraram sobre outras nações, transformando-as em ruínas, por onde passeavam as sombras dos sofrimentos humanos...
Guerras e planos de paz sofrem a poderosa força da palavra.
De tal forma é importante que os modernos governantes do mundo modificaram as bases da diplomacia universal, visitando-se reciprocamente para conversar.
Alguns de nós ainda pronunciamos palavras doces, com lábios manchados de fel. Outros sorrimos, embora chorando intimamente. Ou falamos meigamente, cheios de raiva e ódio...
Necessitamos nos exercitar no correto uso desse instrumento, que deve ser de compreensão, de união, de paz.
* * *
Desculpemos a fragilidade alheia, lembrando das próprias fraquezas.
Evitemos censurar, sem objetivos nobres, que desejem contribuir para a melhoria de qualquer quadro.
A maledicência começa na palavra da censura inoportuna.
Se nosso intuito é educar, reparar erros, sejam nossos vocábulos dirigidos para o responsável por aquilo que desejamos melhorar.
Toda palavra rude, como qualquer censura insistente, constante, se torna hábito negativo, que contribui para o mal-estar, a má vontade.
Enriqueçamos o coração de amor e banhemos o cérebro com as luzes da misericórdia divina e da sabedoria, a fim de que falemos, falemos muito, do que esteja cheio o nosso coração.
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Com Fúria
e raiva, de Sophia de Mello Breyner Andresen, do livro O nome das coisas,
ed. Assirio & Alvim e baseado no cap. 35, do livro Convites da vida, pelo
Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Em 19.2.2024.