Era para ser mais um concerto da Orquestra Sinfônica da cidade, dentre a sua rica programação anual.
Como de costume, a plateia preenchia quase que completamente os espaços do rico auditório.
Grande a expectativa.
Os músicos entram, recebidos com demorados aplausos. Após as últimas afinações dos instrumentos, um silêncio natural se faz. Todos estão prontos para iniciar o concerto.
A plateia aguarda a entrada do maestro. No entanto, é surpreendida por uma quebra do protocolo.
Um dos músicos se levanta e toma a palavra. Em nome de todo o grupo, pede a um dos colegas instrumentistas para vir à frente.
Era um músico que, desde a sua fundação, se apresentava na orquestra. Nesse momento, é anunciada a sua aposentadoria.
Ele seria substituído por outro ilustre instrumentista, como ele próprio.
Os colegas, para seu último concerto, haviam lhe preparado uma homenagem.
O auditório emocionado, em pé, rompe em aplausos calorosos. Os presentes dizem, dessa maneira, que estão gratos por todas as notas melódicas que, ao longo dos anos, ele arrancou do seu instrumento e lhes ofereceu.
O músico recebe uma placa, em nome de toda a orquestra.
Tímido e emocionado, ele agradece e retoma seu lugar, a fim de que siga a programação.
Quem pudesse observar aquele homem, perceberia que algo diferente lhe ocorria.
Seus olhos não percorriam apenas sua partitura mas, nos momentos de pausas mais longas, observava seus companheiros.
Passava os olhos entre os vários naipes de instrumentos, rememorando cenas que ele houvera visto centenas de vezes.
Era a última vez que, do lugar que ocupava, assim os podia observar, um a um.
Olhou para o auditório suntuoso, repleto. Pisara tantas vezes neste palco e agora o deixaria para sempre.
Em sua mente, com certeza, reviveu os inúmeros concertos, ensaios, repertórios diversos que teve de dominar, para oferecer o melhor de sua arte.
Encerrava ali um ciclo, etapa importante de aprendizado.
* * *
Assim acontece conosco, em nossa existência.
A cada dia, somos convidados a um novo concerto na experiência da vida.
Utilizamos nosso mais nobre instrumento, o corpo físico, para executar a melodia.
Porém, as músicas que a vida nos convoca a aprender, a ensaiar até o aprendizado feito, para uma execução impecável, são aquelas do coração.
O concerto da vida nos convida ao aprendizado de nobres sentimentos, a fim de que sejamos executores de melodias incomparáveis, em nosso caminhar pela vida.
As plateias são as mais diversas: a família, o círculo de amigos, os colegas de trabalho, mesmo desconhecidos que cruzam nossos caminhos.
E, um dia, em nosso último concerto, nos despediremos do palco desta vida, para retornarmos ao mundo espiritual.
Deixaremos o instrumento encerrado em um estojo e levaremos conosco o repertório emocional com o qual conduzimos nossos concertos.
Por isso, enquanto ocupamos o palco da vida, nos ensaios e nas repetições, aproveitemos o ensejo de exercitar as emoções que ainda não executamos em nosso coração.
Permitamos que ele entre em harmonia com as emoções nobres, que só a ele cabe executar.
Redação do Momento Espírita
Em 8.12.2023.
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