Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
busca   
no título  |  no texto   
ícone Ainda desumanos

Albert Schweitzer, teólogo, médico e organista alemão, foi, certamente, um dos grandes pacificadores dos tempos mais recentes.

Ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1952, deixou um exemplo a ser seguido por toda a Humanidade.

Ao receber a condecoração, alertou em seu discurso:

O fato essencial que devemos reconhecer em nossas consciências, e que já deveríamos ter reconhecido há muito tempo, é que estamos nos tornando desumanos à medida que nos tornamos super-homens.

Aprendemos a tolerar os fatos da guerra: que homens são mortos em massa. Algo como vinte milhões na Segunda Guerra Mundial.

Que cidades inteiras e seus habitantes são aniquilados pela bomba atômica, que homens são transformados em tochas humanas por bombas incendiárias.

Somos informados dessas coisas pelo rádio ou pelos jornais e as julgamos, de acordo com seu significado de sucesso para o grupo pessoal ao qual pertencemos ou para nossos inimigos.

Quando admitirmos que esses atos são o resultado da conduta desumana, essa admissão será acompanhada pelo pensamento de que a guerra em si não deixa opção senão aceitá-los.

Ao nos resignarmos a esse destino sem esboçar resistência, estaremos sendo culpados de desumanidade.

O que realmente importa é que devemos todos nos dar conta de que somos culpados de desumanidade.

O horror desse reconhecimento deve nos chacoalhar e despertar da letargia para que possamos direcionar nossas esperanças e intenções para a chegada de uma era em que não haverá lugar para guerra.

Essa esperança, essa vontade deverá ter um objetivo único: alcançar, por meio de uma mudança do espírito, a razão superior que nos desestimulará de fazer mau uso do poder de que dispomos.

*   *   *

Ouçamos os sábios. Escutemos as vozes dos que enxergam mais do que podemos enxergar.

Percebamos que, mesmo cerca de setenta anos depois, estas palavras ainda são atuais e necessárias.

Não podemos aceitar a guerra, independente da motivação que a gerou. Não podemos aceitar qualquer ato de desumanidade.

Não podemos acreditar que um conflito no outro lado do mundo não tem nada a ver com nossa vida corriqueira.

São nossos irmãos, todos eles. Não importa o lado em que estejam.

Se já não o foi, um daqueles países poderá ser, um dia, nossa pátria, o solo que irá nos receber numa próxima encarnação.

Pensamos nisso, em algum momento?

E quem gostaria de nascer numa casa desarrumada? Quem gostaria de começar uma nova oportunidade numa nação onde vige o ódio e a guerra?

A responsabilidade pelo mundo é de todos nós.

Percebamos se não estamos nos tornando desumanos à medida que nos tornamos super-homens, como tão bem lembrou o pensador.

Muitas capacidades. Muita inteligência. Multitarefas e, ao mesmo tempo, indiferentes, envolvidos numa espécie de torpor que nos impede de perceber a dor de quem está ao nosso lado.

Pensemos nisso. O que podemos fazer pela paz hoje? Aqui, ao nosso redor? Aqui, dentro do coração?

Redação do Momento Espírita, com base no cap.
 
A tragédia da guerra, do livro Heróis de Paz,
 de Irwin Abrams, ed. Gutenberg.
Em 1º.12.2023.

 

Escute o áudio deste texto

© Copyright - Momento Espírita - 2024 - Todos os direitos reservados - No ar desde 28/03/1998