Albert Schweitzer, teólogo, médico e organista alemão, foi, certamente, um dos grandes pacificadores dos tempos mais recentes.
Ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1952, deixou um exemplo a ser seguido por toda a Humanidade.
Ao receber a condecoração, alertou em seu discurso:
O fato essencial que devemos reconhecer em nossas consciências, e que já deveríamos ter reconhecido há muito tempo, é que estamos nos tornando desumanos à medida que nos tornamos super-homens.
Aprendemos a tolerar os fatos da guerra: que homens são mortos em massa. Algo como vinte milhões na Segunda Guerra Mundial.
Que cidades inteiras e seus habitantes são aniquilados pela bomba atômica, que homens são transformados em tochas humanas por bombas incendiárias.
Somos informados dessas coisas pelo rádio ou pelos jornais e as julgamos, de acordo com seu significado de sucesso para o grupo pessoal ao qual pertencemos ou para nossos inimigos.
Quando admitirmos que esses atos são o resultado da conduta desumana, essa admissão será acompanhada pelo pensamento de que a guerra em si não deixa opção senão aceitá-los.
Ao nos resignarmos a esse destino sem esboçar resistência, estaremos sendo culpados de desumanidade.
O que realmente importa é que devemos todos nos dar conta de que somos culpados de desumanidade.
O horror desse reconhecimento deve nos chacoalhar e despertar da letargia para que possamos direcionar nossas esperanças e intenções para a chegada de uma era em que não haverá lugar para guerra.
Essa esperança, essa vontade deverá ter um objetivo único: alcançar, por meio de uma mudança do espírito, a razão superior que nos desestimulará de fazer mau uso do poder de que dispomos.
* * *
Ouçamos os sábios. Escutemos as vozes dos que enxergam mais do que podemos enxergar.
Percebamos que, mesmo cerca de setenta anos depois, estas palavras ainda são atuais e necessárias.
Não podemos aceitar a guerra, independente da motivação que a gerou. Não podemos aceitar qualquer ato de desumanidade.
Não podemos acreditar que um conflito no outro lado do mundo não tem nada a ver com nossa vida corriqueira.
São nossos irmãos, todos eles. Não importa o lado em que estejam.
Se já não o foi, um daqueles países poderá ser, um dia, nossa pátria, o solo que irá nos receber numa próxima encarnação.
Pensamos nisso, em algum momento?
E quem gostaria de nascer numa casa desarrumada? Quem gostaria de começar uma nova oportunidade numa nação onde vige o ódio e a guerra?
A responsabilidade pelo mundo é de todos nós.
Percebamos se não estamos nos tornando desumanos à medida que nos tornamos super-homens, como tão bem lembrou o pensador.
Muitas capacidades. Muita inteligência. Multitarefas e, ao mesmo tempo, indiferentes, envolvidos numa espécie de torpor que nos impede de perceber a dor de quem está ao nosso lado.
Pensemos nisso. O que podemos fazer pela paz hoje? Aqui, ao nosso redor? Aqui, dentro do coração?
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
A tragédia da guerra, do livro Heróis de Paz,
de Irwin Abrams, ed. Gutenberg.
Em 1º.12.2023.
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