Conta um dos biógrafos de Francisco de Assis que, certa feita, um dos frades teve uma visão.
Foi frei Leão que viu, em espírito, um rio largo e caudaloso. Ao observar quem o atravessava, notou que vários frades da sua ordem eram arrastados pela força da correnteza e se afogavam.
Alguns chegavam até a metade da travessia, outros até perto da margem, mas todos eram arrastados pela correnteza porque carregavam fardos nas costas.
Frei Leão sentiu uma profunda compaixão pelos irmãos e continuou observando a cena.
Viu, então, um grupo de frades que não carregava fardo algum. Eles entraram no rio e conseguiram atravessá-lo sem maiores problemas.
Não entendendo o que aquilo significava, procurou Pai Francisco, que esclareceu:
O que você viu é verdadeiro. O grande rio é o mundo. Os frades que nele se afogaram são aqueles que não foram fiéis ao voto de pobreza.
Aqueles que o atravessaram sem esforço são os irmãos que não buscam nem possuem bem algum neste mundo. Por isso, conseguem passar tão facilmente para a eternidade.
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Lição magnífica do Poverello, como era conhecido Francisco, o pobrezinho de Assis. Lição para cada um de nós.
Os bens materiais devem nos servir, jamais sermos deles escravos.
Nem nos prendermos de tal maneira aos nossos bens, que venhamos a ter dificuldade de os deixar, quando tenhamos que partir para a outra vida.
A posse do necessário se faz para a nossa sobrevivência. E de algo mais, inclusive, que nos dê conforto e momentos de felicidade.
Alguns colecionamos livros, que nos enriqueçam o intelecto. Outros apreciamos artigos de arte, de beleza. Enfim, cada um tem o direito de usufruir um tanto mais, neste mundo de materialidade.
Contudo, Francisco nos dá o exemplo. Ele se casou com a pobreza, quando, incompreendido pelo pai, Pietro Bernardone, rico comerciante de tecidos, foi levado a um tribunal religioso.
Abandonou tudo o que o vinculava ao sobrenome do pai e se transformou no Francisco de todos nós.
Inovou, em seu tempo, instituindo o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos costumavam fixar-se em mosteiros.
Numa época em que o mundo era considerado essencialmente mau, ele afirmou que em tudo se deveria ver a bondade e a maravilha da Criação.
Pobre entre os pobres, amou e serviu a todos, chamando-os irmãos.
Também conhecido como o Cristo da Idade Média, Dante Alighieri o denominou como a luz que brilhou sobre o mundo.
Se valorizamos em demasia os bens da Terra, cabe-nos lembrar que estamos no corpo físico como Espíritos imortais.
A matéria é um empréstimo temporário, desde que todos, logo ou pouco depois, retornaremos à pátria espiritual.
O excessivo apego aos bens materiais atrapalhará o prosseguimento da vida na esfera espiritual.
Aprendamos, com Francisco, a importância do desapego. Servir-se, utilizar, sem nos agarrarmos à sua posse.
Somos passageiros na nave terrena. E toda viagem chega, um dia, ao seu porto final.
Importante que tenhamos o passaporte carimbado com construtivas ações para passarmos pela alfândega da Espiritualidade sem maiores percalços.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo
Francisco de Assis e Hermann Hesse, de Marcelo Anátocles Ferreira,
publicado no Jornal Mundo Espírita, de outubro 2023, nº 1671, ed. FEP.
Em 17.11.2023.
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