Era uma mulher linda. Infeliz porque seu maior pavor era perder o que considerava inigualável, um bem supremo, sua beleza.
Atormentava-se, desde muito jovem, olhando-se ao espelho, procurando a mínima ruga, uma primeira dobra na pele lisa.
Com o tempo, apresentaram-se as pequenas rugas, algumas manchas na pele rosada. Embranqueceram os cabelos, exigindo-lhe cuidados constantes a fim de escondê-los.
Quando alcançou os sessenta anos, se tornara uma pessoa resmungona, que odiava o fato de estar envelhecendo.
As pessoas lhe diziam que aparentava ter menos idade. E, embora fosse verdade, ela não acreditava.
Um amigo mais sábio lhe sugeriu:
Tente imaginar que você está conquistando a maturidade e não perdendo a juventude!
Inútil a argumentação. Aquilo não lhe parecia natural.
Decidiu recorrer a cirurgias plásticas.
As primeiras a que se submeteu lhe fizeram bem. Removeram-lhe traços amargos, sinais de cansaço prematuro.
Entretanto, o médico, criterioso, sugeriu que aguardasse um pouco para outras intervenções. Seria importante deixar a natureza agir, o corpo descansar.
Ela decidiu não seguir seus conselhos.
Buscou outros profissionais que fizeram suas vontades sem restrição alguma.
Dessa maneira, excedeu seus próprios limites.
Em verdade, o que lhe faltava era amor a si mesma porque continuava detestando o que o espelho lhe mostrava.
Isolou-se, apartou-se das amizades, abandonou as festas.
Quando se permitia sair para compras, idas ao shopping, eventualmente, a um restaurante, parecia-lhe que todos a apontavam, dizendo:
Lá vai aquela velha!
Ela desejava ter o rosto dos seus brilhantes dezoito anos. Queria que o tempo tivesse congelado naquele ano.
Suas tantas cirurgias a transformaram. Mudaram os contornos dos olhos, o nariz, o queixo, as orelhas.
Por fim, nada mais nela era dela.
Poder-se-ia dizer que estava irreconhecível.
E, contudo, continuava infeliz. Esquecera de viver cada dia, com a intensidade que a vida lhe permitia.
Usufruir do amor, das amizades, de quem lhe queria bem, avançando nos anos...
* * *
Há uma preferência inegável, em nossa sociedade, pela juventude e pela beleza.
Basta olharmos para os anúncios publicitários para constatarmos essa verdade.
Trata-se a juventude como se fosse o mais precioso e desejável de todos os bens.
No entanto, somente aqueles que ainda não foram surpreendidos com as primeiras marcas causadas pelos anos podem acreditar que serão jovens para sempre.
O tempo não se dobra às ilusões e aos caprichos humanos.
Segue incansável e constante, segundo a segundo, dia após dia.
Envelhecer é natural. Não é sinônimo de decadência física. Representa, sim, o acumular de experiências.
O corpo pode não se valer da mesma forma e da mesma força dos verdes anos, mas o Espírito pode conservar o vigor de sempre.
Desse modo, protejamos nosso corpo físico da ação inclemente do tempo porque ele é um instrumento valioso.
Porém, não nos escravizemos, nem nos iludamos porque, afinal, essa é apenas uma pequena etapa na longa marcha da evolução.
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