Avançava a noite na cidade interiorana. Doutor Júlio David, nobre facultativo baiano, aproximou-se do veículo e pediu que o profissional o levasse, com urgência, para atender a um paciente em bairro distante.
O motorista lhe respondeu que não podia. Encerrara o seu expediente e estava indo para sua casa. Havia trabalhado muitas horas.
O médico insistiu, dizendo que seria difícil conseguir outra condução, àquela hora. E o chamado era urgente...
O motorista respondeu insatisfeito:
Estou cansado! Vire-se por aí. O que não falta são veículos.
Mas é tarde - insistiu o médico. Estamos perdendo tempo enquanto uma vida está se diluindo. Seja rápido, leve-me por favor...
Irritado, o motorista partiu, velozmente, resmungando:
Era só o que me faltava aparecer. Não levo ninguém. Vou é dormir.
Ao chegar em sua casa, surpreendeu-se por estarem as luzes acesas, alguns vizinhos à porta.
Assustado, buscou o interior doméstico para encontrar seu filho, de cinco anos de idade, em lamentável convulsão, semiasfixiado.
Sua ideia imediata foi colocar a criança no seu carro para levá-la, o mais rápido possível, ao Pronto-Socorro. Nisso, estacionou um carro à porta e um médico saltou apressado.
De imediato, acercou-se do pequeno, identificou o grande mal asmático. Aplicou imediatamente a medicação, ensejando a reação orgânica que lhe permitia conduzi-lo ao hospital com possibilidades de salvação.
O motorista olhou o venerável senhor e baixou os olhos, envergonhado. Era o médico que ele se negara conduzir há pouco.
O paciente a quem o médico precisava atender, com urgência, era seu próprio filho.
* * *
Tantas vezes nos negamos a atender um pedido que nos é feito porque pensamos que nada tem a ver conosco.
Esquecemos a recomendação de Jesus de fazermos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem.
Diz-nos o bom senso que devemos fazer o bem sem olhar a quem. E, para o praticarmos, uma única condição é necessária: a de que alguém precise do nosso auxílio.
Não importa quem seja, que religião professe, a que nível social pertença.
Nada importa a não ser levarmos em conta que somos todos filhos do mesmo Pai, do Criador do Universo, que nos colocou no mundo para que nos ajudemos mutuamente.
Com frequência, ante dificuldades alheias, costumamos dizer: Que Deus te ajude!
Imprescindível nos questionarmos:
Como é que Deus vai ajudar as pessoas, senão através das próprias pessoas?
Pensemos nisso. Deus conta conosco e age através de nós. Quando alguém precisar de nossa ajuda, antes de nos negarmos, nos perguntemos: E se fosse um ente muito caro ao meu coração, como eu gostaria que o tratassem?
Agindo assim, jamais nos arrependeremos e, certamente, estaremos construindo um mundo bem melhor para todos nós.
* * *
Controlemos nossa má vontade e venceremos nossas qualidades inferiores.
O que negarmos a alguém nos fará falta, agora ou mais tarde.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita
Em 23.9.2023.
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