Elas chegam de maneira inesperada. Assaltam o castelo da tranquilidade íntima e se tornam salteadoras da paz.
Inesperadas, não enviam aviso prévio, nem anunciam dia e hora da interferência, em assuntos da vida privada.
São como tempestades destruidoras; terremoto debaixo dos pés; inundação de chuvas torrenciais na seara de cada um, transformando os campos em lodaçal ou pântano imprestável.
Afugentam os amigos. Arrebentam as portas, permitindo a entrada de outros cúmplices.
Quebram o telhado, derrubam muros e desfolham as árvores da paciência. Pisoteiam os ramos floridos do jardim, tornando a primavera em cinzentos outonos de folhas mortas.
Transformam-se em amargas provações. Difíceis testemunhos. Quase insuperáveis expiações.
Não são demônios, entidades sombrias ou feiticeiras dos castelos medievais, voando em suas vassouras sobre nossas cabeças, com suas risadas terríveis.
São velhos conhecidos nossos, despertados por gatilhos emocionais ou autorizados pela Excelsa misericórdia a nos visitar em tarefa de despertamento.
Escurecem os céus de brigadeiro, revoltam as águas do mar calmo onde antes navegávamos, alterando nossa rota para traiçoeiros recifes em praias desconhecidas.
Não são nossos desconhecidos. São inquilinos que admitimos em nossa hospedaria íntima em algum instante da caminhada. Ocupam um quarto e ignoram o dia da partida.
Respiram a mesma atmosfera psíquica do proprietário da pousada. Comem na mesma mesa, possuem enorme afinidade de prazeres e objetivos existenciais.
E nós lhes damos nomes diferentes da sua real identidade.
Ao egoísmo chamamos proteção.
A vaidade denominamos cuidado corporal.
A arrogância apresentamos como defesa justa.
A tirania deixamos passar como autoridade e disciplina.
Ao ciúme conferimos a carteira de identidade de amor.
Onde a Divindade que não nos socorre quando da visita dessas fúrias?
Quem nos protegerá diante de tão severas tempestades?
* * *
Levantava-se um grande temporal, com vendaval e ondas rebentando contra o barco, que estava praticamente repleto de água.
Jesus dormia deitado na parte traseira do barco, com a cabeça em uma almofada.
Percebendo, no entanto, o desespero dos discípulos despreparados, despertou e ordenou ao vento e ao mar:
Aquietai-vos!
A tempestade parou e fez-se uma grande calmaria.
* * *
O Evangelho de Jesus e Sua proposta de amor são nossa grande proteção contra os temporais causados por esses velhos conhecidos nossos.
O trabalho no bem permite encarar as tormentas sem o medo que paralisa, administrando tudo com seriedade e responsabilidade.
Chegará o dia em que domaremos nossas más inclinações assim como o Mestre domou o mar bravio e o vento descontrolado.
Chegará o dia em que seremos capazes de dizer: Aquietai-vos! Para a alma intempestiva, para o desejo incontrolável, para o egoísmo que nos separa de nosso próximo.
Sigamos Jesus e esse dia não demorará muito.
Com Jesus, toda fúria, que surge, trabalha nossa personalidade, nos aprimora e passa.
Redação do Momento Espírita, com citação
de trechos da mensagem do Espírito Marta,
psicografia de Marcel Mariano, em Salvador,
em 17.6.2023.
Em 22.8.2023.
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