O fato, ocorrido em um pronto-socorro, atraiu a atenção dos acadêmicos plantonistas naquele sábado frio.
Era ao cair da tarde quando chegou o casal com um garoto enrolado em um cobertor.
Pai e mãe se mostravam apavorados e o pai não parava de dizer: Ele se queimou. Ele se queimou.
O que causou surpresa aos jovens era que o menino parecia bem. Respondeu, de forma serena, dizendo seu nome. E isso tranquilizou os plantonistas.
No entanto, quando o garoto foi colocado na maca, retirado o cobertor, viram, estarrecidos, o grande estrago.
Ele sentara sobre a chapa quente de um fogão e tinha queimaduras graves nas nádegas e na parte posterior das coxas. Era algo para o acidentado estar gritando ou desfalecido.
No entanto, é como se nada tivesse acontecido. Foi levado para o Centro Cirúrgico para retirada do tecido morto, entre outras providências.
Era evidente que, posteriormente, ele precisaria de um transplante de pele.
Intrigados, os acadêmicos ouviram a explicação do experiente professor: O que vocês presenciaram é um caso raro da Síndrome de Ryley-Day.
Uma anomalia genética que afeta os neurônios sensoriais.
E concluiu: Ele não sente dor e esta é a sua desgraça.
* * *
Ante o fato, recordamos das orientações espirituais que afirmam que a dor é uma bênção que Deus envia a Seus eleitos: não vos aflijais, pois, quando sofrerdes.
Antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória do céu.
Isso nos leva a entender porque o não sentir dor física é uma desgraça, não um benefício.
O menino sentou em uma chapa quente e, por nada sentir, sofreu queimaduras de terceiro grau, que lhe marcaram o corpo para sempre.
Sentir a dor de um espinho que nos fere a pele, um prego que nos penetra o pé, a brasa que nos queima, nos faz, rapidamente, nos afastarmos do perigo.
E como a dor física nos é um alerta e provoca uma reação imediata, as dores emocionais que nos atingem, nos informam que algo não está bem conosco.
A angústia, a tristeza, a raiva são sinais de alerta.
A frustração constante com o trabalho, com a profissão nos deve levar a pensar em sanar aquilo que nos infelicita, nos fere tanto, porque resultará, logo mais, em problemas físicos.
Quando a tristeza passa dos limites esporádicos, mantendo-se como companheira constante, nos diz que devemos investigar a causa a fim de afastá-la.
Não podemos fingir que a dor não existe. Não podemos colocar para debaixo do tapete aquilo que nos fere, todos os dias, todas as horas.
Se a dor nos alcança quando alguém parte para o Além e deixa um lugar vazio à mesa, temos o direito de chorar, de sentir a ausência. Direito a viver o período de luto.
Mas, não para a totalidade da nossa vida.
A bênção da dor nos deve estimular à busca de auxílio, seja da fé que abraçamos ou de profissionais terapeutas, braços de Deus na face da Terra.
Bendita dor física que nos leva a procurarmos dela nos desvencilhar. Bendita dor emocional que nos lembra que nosso grande compromisso, nesta Terra, é viver.
Viver para progredir. Para lutar. Para amar. Para seguir em frente.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Um ensaio sobre a dor,
de Eugenio Mussak, da revista Vida simples, edição 162, de setembro 2015,
ed. Abril e no cap. IX, item 7, do livro O Evangelho segundo o Espiritismo,
de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 17.6.2023.
Escute o áudio deste texto