Era uma vez uma menina chinesa. Nós a chamaremos Aurora, declinando de nomear seu nome original.
O pai dela se casara duas vezes e tinha duas filhas, uma de cada esposa.
A mãe de Aurora morreu. Logo depois, o pai. A madrasta a maltratava, demonstrando preferência pela própria filha.
Aurora era uma ceramista de talento e passava o dia todo no torno, aperfeiçoando seu dom. As pessoas vinham de longe para comprar seus potes.
Seu único amigo era um peixe dourado que ela adorava.
A malvada madrasta ficou com ciúme, apanhou o peixe, preparou-o e o comeu. Escondeu as espinhas debaixo de um monte de esterco, no jardim da casa.
Aurora as encontrou e as guardou em seu quarto.
A história conta que as espinhas do peixe lançavam raios mágicos que atribuíam um brilho especial aos potes da jovem.
Em certa oportunidade, o mais nobre dos guerreiros locais ofereceu uma grande festa, convidando toda a comunidade.
A madrasta, de imediato, proibiu que Aurora participasse. Mas, quando ela e a filha saíram, dirigindo-se para a festividade, Aurora se vestiu com um belo manto de penas de martim-pescador.
Nos pés, calçou sapatos dourados, leves e elegantes. Estava deslumbrante.
Na festa, ela conversou brevemente com o nobre guerreiro, que ficou muito impressionado com sua beleza.
Percebendo a presença da enteada, a madrasta a perseguiu, expulsando-a do local. Aurora correu para casa.
Pelo caminho, perdeu um dos sapatos, que foi encontrado pelo promotor da bela recepção.
Desejando conhecer a identidade daquela que o impressionara, ele ordenou que todas as moças de seu reino experimentassem o calçado.
Por ser muito pequeno, a nenhuma jovem serviu.
Então, o sapateiro, que fizera os sapatos dourados, se apresentou e contou a quem pertencia o calçado.
Aurora havia trocado um de seus maravilhosos potes pela preciosa encomenda.
E foi assim, graças ao seu talento e esforço, que lhe permitiu adquirir aquele calçado tão especial, que ela foi levada ao casamento com o nobre senhor guerreiro.
Naturalmente, como em todos os contos de fadas, os dois viveram felizes para sempre.
* * *
Durante muitos anos se pensou que a história de Cinderela teria surgido na Itália, em 1634, desde que é a versão europeia mais antiga.
No entanto, a versão chinesa data de oitocentos anos antes.
O papel foi inventado na china no ano 105 d.C. e o livro mais antigo impresso, de que se tem notícias, data de 868 d.C.
Copiado à mão, traz uma miscelânea de contos folclóricos, inclusive o da Cinderela chinesa.
Será que o mercador e viajante Marco Polo terá levado o conto de Pequim para Veneza?
Não se sabe. Mas o importante é assinalar que o esforço, o talento são talismãs contra o desespero, a injustiça. Esta é a grande lição a ser extraída.
Ao final, sempre vence a justiça, a verdade.
O Evangelho assinala que nada há de oculto que não venha a ser revelado. E nada em segredo que não seja trazido à luz.
Isso acalenta as almas dos que nos sentimos injustiçados, perseguidos.
Sempre seremos vencedores, apoiados no trabalho, no bem, na verdade.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 22 e
no cap. A história de Ye Xian: a Cinderela chinesa original,
do livro Cinderela chinesa, de Adeline Yen Mah, ed. Companhia
das Letras e no Evangelho de Marcos, cap. 4, vers. 22.
Em 17.4.2023.
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