Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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Foi durante a pandemia. O isolamento social nos deixou reclusos.

O impacto inicial foi de surpresa mas, imaginamos, de forma ingênua, que tudo passaria depois daquela primeira quinzena.

No entanto, as quinzenas foram se sucedendo e aprendemos a viver sem abraços, sem encontros, sem reuniões presenciais.

Os cultos religiosos foram se transformando em realizações virtuais.

As aulas, do ensino fundamental ao superior, de igual forma. Fomos nos habituando a estar bem vestidos da cintura para cima. Porque é como aparecíamos nas janelinhas das lives e atividades on-line.

A festa de casamento, a viagem de núpcias foram adiadas. O primeiro aniversário do filho, o baile da formatura, tudo foi, a pouco e pouco, sendo cancelado.

A grande preocupação era sobreviver ao vírus terrível que parecia sentir prazer na agressão ao organismo humano, decepando vidas ou deixando sérias sequelas nos que conseguiam se desvencilhar dele.

Então, a vontade de abraçar amigos se transformou em um grande anseio.

Cada um, à sua maneira, foi inventando modos de se fazer presente na casa do amigo, mesmo de forma rápida, sem toques, sem beijos.

Uma maneira, além da virtualidade, de um reencontro.

Alguém decidiu fazer pão, sua especialidade. Fez vários. Pão com gosto de saudade, de amizade.

E saiu a distribui-los. Chegava de surpresa e deixava, na portaria do prédio, no portão do condomínio, à porta do apartamento vizinho, um lindo embrulho, com um generoso laço de fita, um cartão traduzindo doçura nas letras: Saudade de você. Prove o pão do meu carinho.

Quem recebia, corria ao telefone, ao whatsApp para agradecer, por vezes, entre lágrimas de emoção.

E, desejando reprisar o gesto, fazia algo que soubesse: um arranjo de flores, um delicado bordado numa peça pequena, um bolo. E uma grande corrente foi se estabelecendo.

Uma corrente que alimentou vidas, sedimentou amizades, trouxe aconchego a corações solitários.

Dias de insulamento alimentados de ternura. O ser humano demonstrou sua capacidade de doação.

Aprendemos a abraçar e a receber abraços virtuais, a acenar de longe, a mandar beijos à distância, a enviar vibrações de bom ânimo a quem estava enfermo, a quem sofria a dor do luto, a alguém de quem a saudade machucava nossa alma.

*   *   *

Não estamos livres do vírus, que alterou a paisagem mundial, deixou estradas e ruas desertas, nos exigiu confinamento.

Ele ainda vige. Importante que, mesmo liberados para encontros e reencontros, reassumindo atividades que haviam se tornado exclusivamente virtuais, não esqueçamos de prosseguir nesses compartilhamentos de carinho.

Sobretudo que percebamos se, em nossa rua, em nosso bairro, ou na comunidade de que participamos, não existe alguém só, alguém que não retornou ao presencial, alguém que prossegue insulado em sua casa.

Esse, mais do que todos, nos deve merecer um mimo de aconchego, uma flor, um pão, um pote de doce para lhe dizer que ele é importante, que o desejamos de retorno conosco, seja na reunião do templo religioso, no trabalho assistencial, na roda de conversa, nas tardes de bordado e chá.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita
Em 3.12.2022.

 

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