Foi no aniversário de seus setenta anos que Iracema, pela primeira vez, ouviu sua neta lhe dizer que estava ficando velha.
A frase lhe causou surpresa. Jamais pensara nos tantos anos somados, décadas acumuladas.
Olhava-se ao espelho e percebia, naturalmente, não trazer mais o viço da juventude, mas não se dera conta do tempo transcorrido.
A vida fora plena de realizações. Ali mesmo, na sala, nesse dia, ela podia contemplar os filhos, com suas esposas, os netos.
Quando o dia findou e ela ficou só, percebeu que viver e envelhecer, como lhe acontecera, era muito gratificante. Um verdadeiro presente de Deus.
Foi então que passou sua vida a limpo. Viu-se criança, vivendo em uma casa sem luz elétrica, sem asfalto, com fogão e forno a lenha, raros carros na cidade.
As notícias de familiares distantes chegavam por cartas e as mais urgentes, por telegramas.
Os primeiros telefones tinham centrais, para as quais era solicitada a ligação, que nem sempre acontecia.
A chegada da luz elétrica foi uma festa.
Conheceu os noticiários, as manchetes, pelo rádio, que mais parecia um enorme caixote sobre o armário, sendo ligado só pelo pai ou pela mãe.
Viu as primeiras conservas em latas, com as quais, depois de vazias, fazia canecas e vasos para flores.
A chegada da televisão foi outro acontecimento. Os comentários eram dos que se admiravam em ter o cinema, dentro de casa.
A tecnologia surpreendia na criação de equipamentos incríveis, em todos os setores.
Para as mulheres daqueles anos era um sonho pensar que poderiam vir a ter, em algum momento, máquina para lavar roupas, para lavar louças, ferro elétrico, enceradeira.
Veio depois o telefone sem fio, que poderia ser levado de um lugar para outro. Logo, surgiu o celular. Portátil, e com várias funções: falar, ouvir, ver, enviar mensagem.
Em certo momento, as lembranças foram se embaralhando porque as novas tecnologias foram surgindo mais rapidamente do que ela as podia dominar.
Mas, se deu conta de que atravessou anos de quase coisa nenhuma e hoje se serve do celular, manuseia um computador.
Vivenciando a pandemia, aprendeu a assistir aulas e palestras, através de plataformas diferenciadas.
Nossa, exclamou para si mesma, vivi setenta anos, vi o mundo pelo avesso e não havia percebido.
Sinto vontade de viver mais setenta só para ver o quanto vai melhorar.
De tudo, porém, o mais importante em minha vida foi conhecer uma nova doutrina que me abriu os olhos e a alma para a realidade imortal, onde a pele enrugada, o cabelo ralo e branco, a perna mancando, a dor nos quadris, não fazem diferença alguma.
Quanto mais vivo, mais aprendo, não paro no tempo.
Vivo em busca de me aprimorar mais e mais, engrandecendo minha alma e me tornando mais sábia.
E ainda divido o que sei, para multiplicar esse saber entre todos que me rodeiam.
Obrigada, Senhor, pela minha vida.
Possamos nós aprender com essa senhora, que envelhece no corpo, ilustrando a mente.
Redação do Momento Espírita
Em 19.11.2022.
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