Eles eram universitários, frequentando a Faculdade de Direito. Enamoraram-se. Ele, o simples filho de um homem do povo. Ela, pertencente à alta classe social.
Tudo ia bem, até ela se descobrir grávida. O que antes era atração, encantamento pelo jovem Saul, transformou-se em desprezo.
Não desejava mais vê-lo, não respondia suas ligações. Finalmente, certa noite, Saul conseguiu abordá-la.
Ela estava impassível, com o propósito de abortar o fruto daquele relacionamento que lhe parecia, agora, inconveniente. Como poderia se consorciar com alguém como ele?
Saul desejava se casar. Seriam os pais felizes de um bebê. Ante a resolução de Raquel, ele propôs que ela tivesse a criança, que a entregasse a ele. Em troca, ele desapareceria de sua vida, para sempre.
Nem prestaria o exame na ordem dos advogados, não exerceria o direito para que não viessem a se cruzar os seus caminhos.
Para todos os efeitos, Raquel viajou para outro país, a fim de gozar um período de férias, antes de iniciar a carreira profissional.
Teve o bebê às escondidas e, no mesmo dia do nascimento, uma funcionária de seu pai foi a casa de Saul e lhe entregou um precioso pacote.
Era uma menina. Saul cumpriu a palavra. Abraçou outra profissão, abriu um pequeno negócio servindo refeições e criou a filha, sozinho.
Mais de uma vez, olhando outras crianças, ela perguntava: Onde está minha mãe?
Ele dizia que sua mãe morrera ao lhe dar à luz. Mas, certo dia, a avó paterna, contrariada, acabou por lhe falar que sua mãe a abandonara. Era essa a verdade.
Um sentimento de dor e de abandono foi o companheiro de Lia, enquanto ela crescia, frequentava a escola e adentrava a Faculdade.
Ao mesmo tempo, ela pensava em ser independente, alimentando a ideia de se tornar adulta, de dirigir sua vida.
Desde os primeiros anos, Lia demonstrou, junto com o autismo, uma certa genialidade.
Aos quatro anos de idade, decorou todo o Código Penal, que encontrou na biblioteca do pai. Adorava baleias e golfinhos, tornando-se expert em tudo que se referia a eles.
Concluiu a Faculdade de Direito como a primeira da turma.
No entanto, por causa do autismo, teve dificuldades em ser aceita em um escritório de advocacia.
Quando, afinal, conseguiu, demonstrou a sua capacidade. Identificava com rapidez detalhes mínimos, alcançando vitórias sucessivas, em processos complexos.
Por isso, foi procurada pela dra. Raquel, que a desejava em seu famoso escritório de advocacia.
Foi nesse momento, que seu pai lhe revelou que aquela era a sua mãe. E contou como tudo acontecera.
Somente então, Lia teve o entendimento correto da renúncia e do amor de seu pai.
Foi à entrevista de emprego, sentou-se frente à mãe e perguntou se ela não a reconhecia, se não sabia quem ela era.
E, ante a surpresa da contratante, ela se declarou: Sou sua filha. Filha de Saul.
Agradeço a sua oferta. Agradeço porque você me deu a vida. Mas, não virei trabalhar com você. O amor de meu pai me criou, me alimentou, me educou.
Estou viva graças a ele.
E se foi de retorno ao lar paterno. Ela estava descobrindo o que era um amor autêntico.
Redação do Momento Espírita, a partir de cenas da
série televisiva coreana Uma advogada extraordinária.
Em 14.11.2022.
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