Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone A ilusão do homem

Desde cedo, Fernando pensava em se tornar alguém que detivesse posses.

Queria crescer, ter dinheiro, ser diferente do que era sua família, sempre às voltas com dificuldades para pagar o aluguel, para sustentar a todos, para comprar roupas novas.

Tão logo alcançou a maioridade, deixou o lar paterno e buscou, em outras terras, o sucesso almejado.

Foi trabalhador braçal, faxineiro, vendedor ambulante.

E foi precisamente nesse último labor, que se lhe aguçou a ideia de montar um pequeno negócio e lucrar, na compra e venda de mercadorias.

O tino para os negócios logo o fez prosperar. Ele não media esforços para o trabalho, dedicando-se horas infindas do dia.

Ele era capaz, destemido e resoluto naquilo que se propunha.

Não se dispôs a um casamento para não ter que dividir tempo e dinheiro.

A solidão era sua companhia constante.

Sua firmeza nos propósitos abraçados era irredutível e sua conta no banco somente crescia.

Passaram-se os anos, a velhice começou a marcar sua presença.

Ele foi se dando conta de que companheiros das lutas, funcionários e clientes antigos foram desaparecendo.

A clientela se renovava, o dinamismo dos negócios agora era diferente. Tudo se alterara, no transcorrer dos anos.

E, de repente, ele se viu só.

O que teria acontecido com os familiares, dos quais simplesmente esquecera?

Quando a pandemia bateu à sua porta, desejando abraçá-lo, ele sentiu medo. Medo de morrer, sozinho.

Ele não cultivara nenhum afeto. E toda sua vida se concentrara em ter sempre mais.

Perguntava-se agora de que lhe valia tudo aquilo. Ele poderia morrer a qualquer momento e nem mesmo tinha descendentes para legar o que conquistara.

Deu-se conta que ajuntara tanto, mas não semeara bênçãos em seu caminho.

Nem mesmo se permitira usufruir de alguns benefícios que o dinheiro poderia lhe proporcionar: ilustrar a mente, viajar, conhecer novos lugares, auxiliar alguém.

E, porque ouvisse dizer que seria bom pensar em algo mais além do estritamente material, ele procurou a velha e esquecida bíblia, entre os seus guardados.

Foi nos apontamentos do Evangelista Lucas que Fernando encontrou a parábola do Senhor Jesus:

A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. Ponderava ele entre si, dizendo: que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos.

E disse: farei isto: derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens.

E direi a minha alma: alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos. Descansa, come, bebe e folga.

Mas Deus lhe disse: louco! Esta noite te pedirão a tua alma. E o que tens preparado, para quem será?

Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.

E completou Jesus: Portanto vos digo: não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.

Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes.

Surpreso com o que lera, nessa mesma noite, Fernando iniciou a elaboração de um plano para distribuir benefícios, antes que a morte o abraçasse, triste e só.

Redação do Momento Espírita, com base
no
Evangelho de Lucas, cap. 12, vers. 16 a 23.
Em 10.9.2022.

 

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