Desde cedo, Fernando pensava em se tornar alguém que detivesse posses.
Queria crescer, ter dinheiro, ser diferente do que era sua família, sempre às voltas com dificuldades para pagar o aluguel, para sustentar a todos, para comprar roupas novas.
Tão logo alcançou a maioridade, deixou o lar paterno e buscou, em outras terras, o sucesso almejado.
Foi trabalhador braçal, faxineiro, vendedor ambulante.
E foi precisamente nesse último labor, que se lhe aguçou a ideia de montar um pequeno negócio e lucrar, na compra e venda de mercadorias.
O tino para os negócios logo o fez prosperar. Ele não media esforços para o trabalho, dedicando-se horas infindas do dia.
Ele era capaz, destemido e resoluto naquilo que se propunha.
Não se dispôs a um casamento para não ter que dividir tempo e dinheiro.
A solidão era sua companhia constante.
Sua firmeza nos propósitos abraçados era irredutível e sua conta no banco somente crescia.
Passaram-se os anos, a velhice começou a marcar sua presença.
Ele foi se dando conta de que companheiros das lutas, funcionários e clientes antigos foram desaparecendo.
A clientela se renovava, o dinamismo dos negócios agora era diferente. Tudo se alterara, no transcorrer dos anos.
E, de repente, ele se viu só.
O que teria acontecido com os familiares, dos quais simplesmente esquecera?
Quando a pandemia bateu à sua porta, desejando abraçá-lo, ele sentiu medo. Medo de morrer, sozinho.
Ele não cultivara nenhum afeto. E toda sua vida se concentrara em ter sempre mais.
Perguntava-se agora de que lhe valia tudo aquilo. Ele poderia morrer a qualquer momento e nem mesmo tinha descendentes para legar o que conquistara.
Deu-se conta que ajuntara tanto, mas não semeara bênçãos em seu caminho.
Nem mesmo se permitira usufruir de alguns benefícios que o dinheiro poderia lhe proporcionar: ilustrar a mente, viajar, conhecer novos lugares, auxiliar alguém.
E, porque ouvisse dizer que seria bom pensar em algo mais além do estritamente material, ele procurou a velha e esquecida bíblia, entre os seus guardados.
Foi nos apontamentos do Evangelista Lucas que Fernando encontrou a parábola do Senhor Jesus:
A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância. Ponderava ele entre si, dizendo: que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos.
E disse: farei isto: derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens.
E direi a minha alma: alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos. Descansa, come, bebe e folga.
Mas Deus lhe disse: louco! Esta noite te pedirão a tua alma. E o que tens preparado, para quem será?
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
E completou Jesus: Portanto vos digo: não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.
Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes.
Surpreso com o que lera, nessa mesma noite, Fernando iniciou a elaboração de um plano para distribuir benefícios, antes que a morte o abraçasse, triste e só.
Redação do Momento Espírita, com base
no Evangelho de Lucas, cap. 12, vers. 16 a 23.
Em 10.9.2022.
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