Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone Às vésperas...

Quero exaltar este meu país, dizendo do quanto sou grato por ter nascido em seu solo.

Sei que andei por outros tantos territórios e guardo lembranças miúdas no íntimo da alma.

Quando vejo tremular as cores da liberdade, fraternidade, igualdade, sinto estremecerem recordações do ontem. E retorno às ruas que foram palco de gloriosos personagens.

Ouço os clamores de indignação de Victor Hugo, extravasados nas suas peças, a imortalidade de atos perenizados em seus escritos.

Revejo a pompa de Versalhes, torno a ouvir o som do sino real na torre da Notre Dame.

Pareço ouvir os passos de um pedagogo ilustre, dirigindo-se ao Instituto para suas aulas, à livraria, ao que lhe deveria ser em breve a nova residência.

Lembro das pirâmides com seus mistérios, dos que viveram nas terras egípcias e se foram, retornando ao lar, em outro sistema solar.

Lembro de detalhes da Europa, de países que me acolheram, em diferenciadas épocas. Recordo... Recordo...

No entanto, para cooperar na regeneração do Espírito de que tanto necessito, quis a Providência que nascesse nas terras do Cruzeiro. Quantas vezes, nem o sei.

Mas aprendi a amar o lábaro estrelado, o hino que fala de um povo heroico, de um brado retumbante.

Lembro dos dias cheios de ideais de liberdade de Filipe dos Santos, dos inconfidentes.

Recordo de dias sangrentos em que a liberdade era cantada ao som das baionetas.

Tantas vidas destroçadas... Tudo por uma pátria independente.

E, então, duzentos anos depois, me ponho a pensar: Por que meu Brasil amado não se transformou ainda na real Pátria do Evangelho?

Por que persistimos nos digladiando tanto? Por que há fome, gente pelas ruas, sem eira, nem beira?

O que nos falta, país amado, para abraçarmos os ideais da fraternidade e pensarmos mais no próximo do que em nossos cofres?

Agirmos mais a bem geral do que em prol de benesses para nossos amigos, familiares, conhecidos?

Quando, afinal, deixaremos de fazer conchavos, na noite escura da alma e nos decidiremos por te querer verdadeiramente livre?

Livre da indiferença, que não percebe a fome, o frio, a miséria. Miséria que é moral.

Miséria que se retrata em exagerada abundância ao lado da miserabilidade, em enxurradas e enchentes, que poderiam ser evitadas...

Miséria da ignorância que corre solta, quando deveríamos nos preocupar intensamente com a instrução, com a educação.

Ouço Castro Alves a exclamar: Livros, livros à mão cheia.

Quando distribuiremos o livro, que faz o povo pensar?

Quando olharemos para essa nação, que canta o amor da Terra e seremos verdadeiramente unidos?

Brasil amado. Amanhã será o grande dia: Duzentos Anos de Independência.

Eu te desejo realmente livre da ganância, da indiferença.

Desejo que todos teus filhos te amem e te agradeçam a ventura de viver em teu solo generoso, mãe gentil.

Seja nossa a legenda dos versos da Canção da Liberdade:

Já podeis da pátria filhos

Ver contente a mãe gentil;

Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil.

Mal soou na serra ao longe nosso grito varonil;

Nos imensos ombros logo a cabeça ergue o Brasil.

 

Redação do Momento Espírita, com transcrição de versos do
 
Hino da Independência, de Evaristo da Veiga e do poema
Ao grêmio literário, do livro Espumas flutuantes, de
Castro Alves, ed. Ediouro.

Em 6.9.2022.

 

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