Conta-se que a morte havia trabalhado tanto em tempo de guerra, que sua foice perdeu o fio.
Isso a incapacitava de ceifar novas vidas. Como ela precisava prosseguir na sua tarefa, procurou um ferreiro e pediu que ele afiasse a sua ferramenta.
Logo que a viu, o homem levou um grande susto. Imaginou que a megera o viera buscar, que chegara a sua hora.
Aliviado, ouvindo o pedido da morte, concordou em atender o que lhe fora solicitado. A foice ficou afiada outra vez e sua dona, muito agradecida.
O ferreiro aproveitou, então, para formular o seu pedido: queria que a morte o avisasse com antecedência, quando o viesse buscar, para ele poder deixar toda sua vida em ordem, antes de partir.
Ela concordou e se foi.
Muitos anos depois ela voltou, disposta a levá-lo. O ferreiro ficou indignado, lembrando que haviam feito um trato: ela devia avisá-lo com antecedência.
Então, a morte, tranquilamente, lhe lembrou que lhe enviara muitos e repetidos avisos: os cabelos embranquecendo, o caminhar mais lento, as rugas.
Ora, de que mais ele precisava?
O ferreiro entendeu. Como uma gentileza, ele pediu um pequeno prazo, para acertar alguns detalhes.
A morte lhe concedeu e, no dia agendado, eles foram embora juntos.
* * *
O conto deve nos lembrar que de todas as certezas da vida, a maior e que alcançará a poderosos ou anônimos, ricos ou pobres, será a morte.
Todos nascemos, temos um período de vida, que poderá ser curto, ou mais longo.
O importante é deixarmos a vida sempre em ordem. Jamais transferir o abraço para o dia seguinte, a manifestação de ternura para a semana seguinte.
O dia é hoje. O momento em que nosso coração pulsa e nossos sentimentos dizem que devemos dirigir uma palavra de carinho a quem temos em alta conta.
Assim, se desejamos manifestar gratidão ao professor que nos honrou com seus ensinos, façamos hoje.
Enviemos uma mensagem, providenciemos um mimo e o entreguemos. Hoje, enquanto o dia nos saúda nesta vida.
Se desejamos presentear alguém, façamos hoje. Amanhã, poderá ser que um de nós não esteja bem ou como já experienciamos, não possamos nos aproximar por uma pandemia terrível, ou qualquer outro evento.
Hoje é o dia de falar de amor, de pedir perdão, de escrever um poema, de ofertar uma rosa, um perfume.
Hoje é o dia de reunir a família e compartilhar uma sobremesa deliciosa, um passeio no parque.
É dia de assistir um desenho animado com os pequenos, comer pipoca, rolar no gramado, andar de bicicleta.
O que tivermos que fazer, façamos. Não adiemos o que nos fale o nosso sentimento.
Vivamos cada dia intensamente. Estudando, aprendendo, doando-nos ao outro, que pode ser o afeto mais próximo, o vizinho ou alguém distante, simplesmente necessitado.
Façamos hoje o nosso melhor.
E observemos nossos cabelos embranquecerem e o tempo esculpir caminhos em nossa face.
Deixemos como nosso legado, mais do que quaisquer bens, a lembrança da nossa generosidade, do nosso sorriso, da nossa alegria de viver e tudo compartilhar.
Aproveitemos. Hoje é o melhor dia para construirmos a fortuna de amor que desejamos deixar aos nossos amores.
Redação do Momento Espírita, com base nas
partes III e IX, do livro Pra vida toda valer a pena viver,
de Ana Claudia Quintana Arantes, ed. Sextante.
Em 27.8.2022.
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