Quando Regina se uniu a um grupo, que pretendia fazer enxovais para recém-nascidos pobres, foi logo estabelecendo normas.
O enxoval não devia ser minúsculo, com peças para uma única muda. Era preciso pensar nos dias seguintes. Também não devia ser estilo qualquer coisa serve.
Teria que ser feito com real capricho, como se fosse para o próprio filho. E o enxoval chegou a ter mais de cinquenta peças.
Todas costuradas, com tecidos apropriados, porque afinal, a pele de um bebê pobre é tão sensível e delicada quanto a de um que nasce em lar abastado.
E os enxovais começaram a chegar aos destinos. Alguns deles ocasionaram verdadeiros milagres.
Como daquela jovem que foi ao hospital, entrou em trabalho de parto e não tinha uma peça sequer de roupa para seu bebê. Desleixo? Indiferença?
De forma alguma. O que ganhava, trabalhando, mal dava para alimentar-se e ao velho pai, com quem vivia.
O namorado, com quem se iria casar, logo descoberta a gravidez, morrera atropelado.
O pai idoso disse que não queria que a filha voltasse para casa. Não queria a desonra de uma criança sem pai sob seu teto.
A situação da jovem era trágica. O pedido de enxoval chegou para Regina. E a tia da gestante o veio buscar, se surpreendendo com o volume recebido.
Pensara em poucas peças, um cobertor. No entanto, o pacote era grande e com um laço lindo, envolvendo-o.
Estava resolvido o problema da roupinha. Mas, para onde iriam mãe e filho, saindo do hospital?
Dias depois, Regina soube do milagre que provocara o enxoval.
A tia o levara para a casa do pai idoso, que não queria ver nada, nem saber de nada. Jamais sua filha pisaria em sua casa de novo, com um filho de ninguém nos braços.
Porém, a senhora abriu o pacote, sob o olhar dele e notou que seu semblante foi se modificando.
De repente, ele se sentou na cama e chorou. Depois de uns minutos, falou:
Desde que Deus está ajudando tanto, eu não posso deixar minha filha na rua. Diga que ela pode vir com a criança.
O enxovalzinho, tecido em amor, impregnado de carinho, alcançou o coração daquele senhor, criado à antiga, com códigos rígidos que não podiam conceber uma mãe solteira.
O amor expresso naquelas peças, por desconhecidas, convenceu o avô a fazer a sua parte.
Naturalmente, não resolveu todos os problemas. Mas, restituiu para a jovem e sua menininha o teto que estava perdido.
Podemos imaginar como se sentiu aquele Espírito, recém-chegado à Terra, envolvido nas vibrações amorosas das peças confeccionadas pelas voluntárias, que haviam lido, no Evangelho de Mateus: Estava nu e me vestistes...
Também o Espírito do rapaz desencarnado, que deveria estar vivendo momentos de aflição porque amava a moça, queria casar-se com ela, ampará-la e à filhinha.
Bem podemos chamar de milagre do enxovalzinho.
Milagre do amor que transforma disposições rudes. Que diz a um bebê, sem palavras, que ele é amado.
O amor é assim. Simplesmente sai pelo mundo distribuindo as suas bênçãos, sem olhar a quem, sem esperar reconhecimento algum.
Quem disse que uma boa ação não transforma o mundo?
Redação do Momento Espírita, com base na
Historinha IV, do cap. XXI, do livro Diversidade dos
carismas, de Hermínio C. Miranda, ed. Lachâtre.
Em 8.8.2022.
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