Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone Quando se pretende falar em humildade

É muito comum encontrarmos interpretações equivocadas a respeito do que seja humildade.

De um modo geral, chamamos humildes às pessoas socialmente pobres. No entanto, o fato de assim viverem não significa, de modo algum, que sejam portadoras dessa virtude ativa.

De outras vezes, denominamos humildes as pessoas de fala mansa e macia. Também se constitui um engano porque debaixo da voz cadenciada podem bem se ocultar temperamentos intolerantes.

A humildade é transparente e discreta, verdadeira. Sem nenhum compromisso com a pobreza material ou com a aparência exterior da pessoa.

Narra um Procurador da República um episódio ocorrido, em Recife, Pernambuco, lá pelos idos de 1992.

Naquele tempo, as audiências eram digitadas. O juiz ditava para o assessor o que falavam os réus e as testemunhas.

Nesse dia, um servidor novo estava encarregado da audiência. Apresentava-se nitidamente nervoso, apesar de digitar muito rápido.

O juiz, Doutor Ubaldo, era alto, fisicamente forte, cara fechada e voz possante. Não por outro motivo, era conhecido como o trovão.

Não era nem de propósito, mas sua fala era de tom naturalmente alto e sua voz grossa chegava a intimidar quem não o conhecesse.

A audiência foi se arrastando, longa, parecendo interminável. Tudo corria normalmente, com o juiz ditando os depoimentos para o assessor.

A partir de certo momento, no entanto, o servidor foi se cansando e não conseguia acompanhar o ritmo do juiz.

O Procurador, que narra o fato, disse perceber que o servidor enfrentava um grande conflito porque não queria interromper o juiz.

Mas, ao mesmo tempo, não estava dando conta e isso poderia ocasionar a nulidade do depoimento ou mesmo de toda a audiência.

Tendo chegado ao seu máximo, o servidor, com a voz por um fio, tocou no braço do Doutor Ubaldo, pedindo licença.

O juiz, que estava absolutamente concentrado na testemunha que fazia seu depoimento, tomou um susto. Virou-se rapidamente para o assessor que, agora, tinha gotas de suor descendo pela testa.

O que foi? - Perguntou.

A voz alta, parecendo exaltada, fez com que todos os presentes dessem um pulo nas suas cadeiras.

O servidor reuniu toda sua coragem, e falou: Desculpe, Excelência, mas não estou conseguindo acompanhar seu ritmo e tenho receio do termo não corresponder ao que a testemunha está dizendo.

O quê? Você está me pedindo desculpas por isso? - Indagou, em estrondo.

O assessor, desejando que a terra o tragasse, se encolheu na cadeira. Com o lábio inferior tremendo, só teve forças para confirmar com a cabeça.

Pois eu não desculpo, não! - Disse o juiz, soando como enorme trovão, ribombando.

O tempo parou. A sala de audiências ficou sem ar.

Ninguém falava nada e o silêncio era constrangedor.

Então, voltou a voz do juiz:

Não desculpo nada porque quem deve desculpas sou eu! Eu é que tenho que falar mais devagar! Desculpe-me! Você tem toda razão.

O ar voltou. Os céus se abriram. A alma do servidor voltou ao seu corpo.

Os advogados suspiraram. E o Procurador da República nunca esqueceu esse exemplo de humildade, empatia e educação.

Redação do Momento Espírita, com base em crônica intitulada
 
O Trovão em audiência, de autoria de Danilo Fontenelle Sampaio
 e na pt. 8, cap. 42, do livro
Ações Corajosas Para Viver Em Paz,
 pelo Espírito Benedita Maria, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em 11.6.2022.

 

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