É muito comum encontrarmos interpretações equivocadas a respeito do que seja humildade.
De um modo geral, chamamos humildes às pessoas socialmente pobres. No entanto, o fato de assim viverem não significa, de modo algum, que sejam portadoras dessa virtude ativa.
De outras vezes, denominamos humildes as pessoas de fala mansa e macia. Também se constitui um engano porque debaixo da voz cadenciada podem bem se ocultar temperamentos intolerantes.
A humildade é transparente e discreta, verdadeira. Sem nenhum compromisso com a pobreza material ou com a aparência exterior da pessoa.
Narra um Procurador da República um episódio ocorrido, em Recife, Pernambuco, lá pelos idos de 1992.
Naquele tempo, as audiências eram digitadas. O juiz ditava para o assessor o que falavam os réus e as testemunhas.
Nesse dia, um servidor novo estava encarregado da audiência. Apresentava-se nitidamente nervoso, apesar de digitar muito rápido.
O juiz, Doutor Ubaldo, era alto, fisicamente forte, cara fechada e voz possante. Não por outro motivo, era conhecido como o trovão.
Não era nem de propósito, mas sua fala era de tom naturalmente alto e sua voz grossa chegava a intimidar quem não o conhecesse.
A audiência foi se arrastando, longa, parecendo interminável. Tudo corria normalmente, com o juiz ditando os depoimentos para o assessor.
A partir de certo momento, no entanto, o servidor foi se cansando e não conseguia acompanhar o ritmo do juiz.
O Procurador, que narra o fato, disse perceber que o servidor enfrentava um grande conflito porque não queria interromper o juiz.
Mas, ao mesmo tempo, não estava dando conta e isso poderia ocasionar a nulidade do depoimento ou mesmo de toda a audiência.
Tendo chegado ao seu máximo, o servidor, com a voz por um fio, tocou no braço do Doutor Ubaldo, pedindo licença.
O juiz, que estava absolutamente concentrado na testemunha que fazia seu depoimento, tomou um susto. Virou-se rapidamente para o assessor que, agora, tinha gotas de suor descendo pela testa.
O que foi? - Perguntou.
A voz alta, parecendo exaltada, fez com que todos os presentes dessem um pulo nas suas cadeiras.
O servidor reuniu toda sua coragem, e falou: Desculpe, Excelência, mas não estou conseguindo acompanhar seu ritmo e tenho receio do termo não corresponder ao que a testemunha está dizendo.
O quê? Você está me pedindo desculpas por isso? - Indagou, em estrondo.
O assessor, desejando que a terra o tragasse, se encolheu na cadeira. Com o lábio inferior tremendo, só teve forças para confirmar com a cabeça.
Pois eu não desculpo, não! - Disse o juiz, soando como enorme trovão, ribombando.
O tempo parou. A sala de audiências ficou sem ar.
Ninguém falava nada e o silêncio era constrangedor.
Então, voltou a voz do juiz:
Não desculpo nada porque quem deve desculpas sou eu! Eu é que tenho que falar mais devagar! Desculpe-me! Você tem toda razão.
O ar voltou. Os céus se abriram. A alma do servidor voltou ao seu corpo.
Os advogados suspiraram. E o Procurador da República nunca esqueceu esse exemplo de humildade, empatia e educação.
Redação do Momento Espírita, com base em crônica intitulada
O Trovão em audiência, de autoria de Danilo Fontenelle Sampaio
e na pt. 8, cap. 42, do livro Ações Corajosas Para Viver Em Paz,
pelo Espírito Benedita Maria, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em 11.6.2022.
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