Naquele lixão, a cena se repete, todos os dias. Mães e filhos revolvendo tudo, à procura de algo útil.
Pode ser um utensílio, desprezado por alguém. Ou uma vestimenta, um calçado.
Bem dizem que o lixo de uns se constitui na riqueza de outros.
Na manhã ensolarada, os olhos de um menino brilharam.
Entre sacolas plásticas e todo aquele lixo revirado, ele encontrou um carrinho de plástico.
Certo: estava com os faróis quebrados, a caçamba amassada mas, para o garoto, era um achado fabuloso.
Pensou que o lavaria bem e poderia ser um brinquedo legal para seu irmão menor.
A mãe sorri ante a alegria do filho, e continua na sua tarefa, que lhe parece bem mais importante: encontrar alguma coisa com que possa alimentar os filhos, nesse dia.
* * *
Pode nos parecer incrível mas, cenas como essa ainda são comuns em algumas grandes cidades brasileiras.
Famílias à cata de algo para matar a fome, não importando o que seja.
Uma triste realidade que precisa ser seriamente pensada.
Sabemos que a Terra é um planeta de duras provas e expiações.
É de nos perguntarmos por que, num mundo de tantas oportunidades, aqueles de nós que desconhecemos a fome, o frio, a necessidade, não temos olhos para nosso irmão.
Num mundo em que o Evangelho de Jesus ecoa em quase todos os quadrantes, em que se fala tanto em solidariedade, fraternidade, como ainda nos permitimos assistir a cenas tão deprimentes assim?
Nenhum de nós está impedido de socorrer o outro, por mínima possa ser a nossa cota de contribuição.
Podemos começar por questões simples, analisando quem nos serve no lar, uma vez na semana, ou todos os dias.
Quem vem fazer a manutenção do nosso jardim, a certos períodos.
Conhecemos suas necessidades reais, onde vive, como vive? Interessamo-nos por saber se seus filhos estão na escola, se foram vacinados, se tem uma mínima assistência médica?
Se a pessoa trabalha de segunda a domingo, para conseguir o pão honrado de cada dia, quando dará atenção aos seus meninos?
O apelo é de fraternidade, que nos convida a verificar como vive nosso irmão.
E, se pudermos lhe amenizar a carga de dores, que o façamos.
Podemos orientar, esclarecer, auxiliar.
Pensemos em oferecer algo mais, além da diária ou do salário formal.
Ninguém chega ao nosso lar, à nossa empresa, à nossa oficina, por puro acaso.
Somos sempre responsáveis pelos que nos são subordinados.
Naturalmente, não poderemos resolver todos os problemas e nem a fome no país ou no mundo.
Porém, se conseguirmos atender ao próximo mais próximo, minimizando-lhe as agruras, estaremos contribuindo para um mundo menos cruel.
Pensemos a respeito e não detenhamos o gesto fraterno, a atenção.
Tenhamos olhos de ver, coração de sentir. Por vezes, o próximo mais próximo pode ser alguém da parentela corporal.
Perto ou distante, vejamos o que podemos fazer em benefício de quem padece.
Afinal, a recomendação evangélica é de amar ao próximo como a nós mesmos.
Pensemos nisso. Disponhamo-nos a modificar o cenário do mundo. Nós podemos.
Redação do Momento Espírita
Em 16.4.2022.
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