A vida humana é cheia de embates e angústias.
A transitoriedade de tudo que se liga à matéria produz contínuo estado de incerteza.
O vigor físico da juventude lentamente se vai.
Enfermidades inesperadas podem mudar radicalmente a vida de uma família.
Acidentes, por vezes, ceifam vidas ou causam aleijões.
As surpresas da economia podem frustrar os mais sensatos planos para um futuro tranquilo.
Empresas, consideradas sólidas, vão à falência, gerando desemprego.
Amigos e parentes se transferem para longe ou desencarnam.
Tais eventos, com frequência, são qualificados como desgraças.
Evidentemente, não é possível ignorar o potencial de angústia que possuem.
Não se espera que os homens sejam indiferentes aos graves acontecimentos de suas vidas.
Contudo, o real significado de um fato depende do ponto de vista pelo qual ele é analisado.
Para quem a vida se resume à matéria, tudo o que torna o viver mais difícil ou trabalhoso é lamentável.
Quando não se tem qualquer objetivo transcendente, as ilusões do mundo crescem em importância.
Entende-se que a felicidade decorre de ambições atendidas e de paixões vivenciadas.
O ideal é viver as sensações ao máximo, pois tudo nelas se resume.
Nessa linha de pensar, cofres cheios, glórias e despreocupação talvez sejam o objetivo máximo da existência.
Entretanto, para quem acredita na continuidade da vida após o término da experiência física, o enfoque muda radicalmente.
A vida na Terra é preciosa e o homem deve se ocupar seriamente com ela.
O objetivo da vida terrena não se identifica com ajuntar coisas e gozar sensações.
Trata-se de uma oportunidade de aprendizado, resgate e sublimação.
Todos nascem e renascem com a finalidade de crescer em sabedoria e amor.
Portanto, as dificuldades do mundo não são necessariamente desgraças.
São apenas lições, que testam e desenvolvem as habilidades que as criaturas trazem no íntimo.
Outras vezes, são resgates de erros do passado.
Importa analisar as ocorrências com largueza de visão.
Considerá-las não apenas como se apresentam, no momento, mas também quanto às suas consequências.
A satisfação da vaidade pode conduzir à ilusão quanto ao próprio caráter.
O exercício do poder talvez leve a enganos que somente no correr dos séculos sejam reparáveis.
A riqueza excita o orgulho e, com frequência, complica a caminhada espiritual.
Já uma existência humilde, quando vivida de forma serena e digna, possui o condão de acalmar velhos vícios.
Para saber se um fato é ditoso ou não, importa prestar atenção em suas consequências.
É bom e natural que o homem lute para ser feliz e conquistar uma vida tranquila.
Mas as batalhas da caminhada e suas eventuais derrotas não são desgraças.
A real desgraça reside na indignidade, nos atos que afrontam a consciência, geram um patrimônio de dor, que deverá ser reparado, no futuro.
Desgraçado não é o que sofre, mas o que faz sofrer.
O infortúnio, ao testar a resignação, a vontade e a coragem, pode ser uma bênção.
O triunfo, mediante expedientes ilícitos, é sempre uma tragédia.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no item 24,
do cap. V de O Evangelho segundo o Espiritismo,
de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 14.12.2021.
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