Quando mais jovem, eu era muito crítico. Tinha a exata ideia de que era um tanto melhor que os demais.
Quase sempre, conversando com meu pai, me punha a reclamar de alguém.
Sempre tinha um relato de um colega, de um amigo, que me havia machucado com palavras grosseiras. Ou havia mentido ou traído minha confiança.
Papai me aconselhava a ser mais brando. E menos reclamão.
Certo dia, quando comecei a ladainha das reclamações, ele me perguntou se eu conhecia bem a pessoa que me ferira o orgulho.
Respondi que era um colega chato, que eu só via na escola.
Então, ele recomendou que eu procurasse saber um pouco mais a respeito de quem eu tanto reclamava.
Um dia, em que fui à casa de minha professora, para conseguir uma explicação adicional sobre um problema, eu a encontrei no portão, de saída.
Atendi ao convite para acompanhá-la porque estava se dirigindo à casa próxima, para visitar uma enferma.
Entrei e fiquei na sala, enquanto a mestra se dirigiu ao quarto da doente, levando-lhe umas bolachinhas para tomar com o chá da tarde.
Depois de alguns minutos, vi um garoto entrar, cabisbaixo. Era o meu colega.
Então, eu soube porque ele era tão amargurado e, por vezes, reagia, um tanto mal-humorado. Ele vivia tenso, temeroso que sua mãe viesse a morrer, deixando-o sozinho.
Além de tudo, precisava, depois da escola, fazer compras, cozinhar e dar uma geral na limpeza da casa.
Ele estava sobrecarregado. Era um garoto da minha idade, com enormes responsabilidades nos ombros.
Não que isso o pudesse desculpar de ser grosseiro, rude ou magoar quem quer que seja.
Mas, me fez entender que, às vezes, quando alguém age assim, está pedindo ajuda, está dizendo que o peso está muito grande para carregar.
Ao me colocar no seu lugar, senti enorme vergonha por não ter sido mais tolerante.
Questionei a minha forma de julgar as pessoas por tão pouco, em nome do meu orgulho ferido.
Ao falar sobre o assunto com meu pai, ele me estimulou ao silêncio, quando não fosse capaz de ser compreensivo e justo.
* * *
Se tivéssemos um raios X potente, que penetrasse as almas alheias, poderíamos descobrir que quem nos magoa, está mergulhado em uma dor para a qual não conhece remédio.
Quando alguém apela para a mentira, ocasionalmente, é porque o vazio que traz dentro de si não permite que a sua verdade seja conhecida.
Quando somos vítimas de traição é porque o traidor não suporta mais carregar o peso da própria solidão e dessa forma a manifesta.
Por isso, não devemos ser precipitados em nossos julgamentos, levando em conta somente o superficial, que estamos vendo.
Uma medida, que nos dá certeza de agirmos acertadamente, é nos colocarmos no lugar do outro e nos indagarmos o que o leva agir dessa forma.
A resposta nos conduzirá a sermos mais compreensivos e pacientes.
Sejamos nós aqueles que corrigimos nossos comportamentos inadequados, primando pela gentileza e bondade.
Esqueçamos nosso ego e enriqueçamos a alma.
Redação para o Momento Espírita.
Em 27.11.2021.
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