Francesco Bernardone, depois de entender o chamado do Cristo, mudou totalmente seu proceder.
O jovem, que curtia as noitadas com os amigos, brincando com as horas, como se nada fossem, se impôs um duro regime de vida.
Raramente comia alimentos cozidos. Esparzia cinzas sobre eles ou atenuava o sabor dos temperos com água fria.
Não se permitia beber, nem mesmo água suficiente, quando queimava de sede.
Ao tomar contato com as exortações de Jesus, anotadas por Mateus: Não leveis ouro, prata ou cobre em vossos cinturões, nem alforjes para a jornada, nem duas túnicas, nem sandália, nem bastão, tudo executou ao pé da letra.
Removeu seu calçado improvisado, ficando descalço. Abandonou o cajado e trocou o cinto por um pedaço de corda. Desfez-se também de uma das suas duas túnicas.
Mais tarde, reconheceu o mal que fizera a si próprio com tal regime de mortificação. E desestimulou os companheiros e seguidores a imitá-lO.
Esses exageros de Francisco eram necessários à época, para chocar o pensamento vigente do luxo e prazer sem limites.
Servindo-se do modelo franciscano, existem aqueles de nós que, afeiçoando-se ao Evangelho de Jesus, acreditamos que nada devemos nos permitir além do indispensável.
Uma viagem de lazer, na qual o Espírito se alimenta com as renovadas paisagens, nem pensar.
Um dia de descanso, fora de questão. É preciso trabalhar, de forma incansável, usando todas as horas a benefício do próximo.
Oportuno lembrarmos que Francisco, para retemperar o Espírito, compunha versos, cantava. Na contemplação da natureza, refazia-se para as lutas.
O próprio Cristo, após as horas exaustivas atendendo a multidão insaciável, buscava o Pai em oração. É como se amenizasse a saudade das paragens de luz enquanto se movia, entre os homens em sombra.
Todos precisamos de refazimento. E todos merecemos nos presentear.
Assim não fosse, e Deus não teria enchido de belezas, de cores e de sons este imenso mundo que nos deu para viver.
O Espírito sente saudades da pátria de onde veio, sente saudades de amores com quem conviveu e não estão ao seu lado, fisicamente, no agora.
Então, é importante nos presentearmos. Uma hora para ouvir uma música que nos leve ao êxtase, um filme que nos conduza a viajar por paisagens esplêndidas, um livro que nos remeta às estrelas.
Todos temos direito de nos deliciarmos com algo que apreciamos, vez ou outra. Um prato que apreciamos, de forma particular.
Colher flores no campo ou adquiri-las na floricultura mais próxima para embelezar a nossa moradia.
Tomar o carro e sair a passeio por uma estrada sem fim, com os vidros abertos, sentindo o vento, olhando o céu, o sol, as montanhas.
Um presente. Não precisamos esperar o dia do aniversário, ou qualquer data específica.
Um presente é para ser recebido quando a alma está carente, quando a saudade dói, quando desejamos aconchego e carinho.
Todos merecemos um dia de descanso, uma hora de alegria, um ambiente de paz.
Pensemos a respeito. Trabalho, sim. Repouso, também. Usufruir justas alegrias, com certeza.
Isso significa nos amarmos. E somente ama ao próximo quem ama a si mesmo.
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos de
Francisco de Assis, colhidos nos caps. 5 e 6, do livro
Francisco de Assis, o santo relutante, de Donald Spoto,
ed. Objetiva.
Em 26.11.2021.
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