Aos cinco anos de idade, ela se viu recolhida a um lar de crianças. Havia outras tantas ali, de variadas idades, meninos e meninas.
Cada qual tinha a sua própria história.
A dela, Ester, era bem simples. A mãe, abandonada pelo companheiro, se vira constrangida a entregá-la a alheios cuidados.
De início, visitava a pequena, em alguns dias. Depois de certo tempo, deixou de aparecer.
Se ela perdera o poder familiar ou se desistira da filha, nunca ninguém lhe disse.
A garotinha chorou muitas e muitas noites a ausência de um lar somente seu, com pais que a amassem.
Por razões que não podia determinar, os anos se passaram sem que ela fosse adotada. Isso a marcou, de forma indelével.
Dentro d'alma carregava, como se feita a ferro em brasa, a marca do abandono.
Ela estudou e, quando se fez o tempo, foi morar sozinha, em uma quitinete.
Um emprego em um escritório lhe abriu novas perspectivas. Não demorou muito e ela se enamorou de um colega de trabalho.
Mas namoro é assim. Não é compromisso eterno. Namoro é espaço em que dois corações se observam, buscando se conhecer.
Seu objetivo é verificar se o amor floresce e se solidifica ou se cada um deve seguir seu próprio caminho.
Pouco tempo transcorrido e o rapaz desistiu do relacionamento.
A dor do abandono, que parecera ter perdido a força, voltou com todo vigor.
Aquela reprise a fez questionar se estaria proibida de ser feliz. Acaso não mereceria a felicidade? Não mereceria ser amada?
Foi ao coração de uma amiga, de idade madura, vizinha no prédio em que morava, que ela buscou confidenciar as suas dores.
Depois de ouvi-la, atentamente, a senhora a abraçou e lhe confortou a alma.
Lembrou-lhe que, embora as experiências, identificadas por ela como abandono, muito estava ainda por vir para os anos futuros.
Falou e falou. Recordou que o propósito da vida é crescer e, naturalmente, buscar a própria felicidade.
No entanto, frisou, a nossa felicidade não deve estar condicionada à presença de alguém.
Não são os outros que nos devem fazer feliz. Nós é que devemos semear felicidade na nossa e nas vidas alheias.
Se não temos quem nos ame, podemos nos dispor a espalhar amor.
Podemos nos dedicar a um cão ou outro animal doméstico e tê-lo como companhia.
Podemos semear um canteiro em um vaso minúsculo e nos alegrarmos com as flores que nos sorrirão, depois, em gesto de gratidão.
Podemos descobrir quem vive só e nos dispormos a lhe fazer companhia. Então, nós mesmos não estaremos mais sozinhos.
Teremos alguém com quem falar, a quem ouvir, a quem relatar as coisas pequenas de um dia de experiências.
Em verdade, podemos pensar em construir um lar. Mas, esse nosso lar pode ser feito de outros sem lar. E constituiremos uma família.
Somente não teremos ninguém que nos ame se não nos dispusermos a oferecer amor.
Porque, parafraseando a oração tão conhecida: é dando que recebemos, é perdoando que somos perdoados, é compreendendo que somos compreendidos.
Em síntese, é amando que somos amados.
Redação do Momento Espírita
Em 20.11.2021.
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