A pandemia decretou o afastamento dos familiares que não residem na mesma casa.
A exigência é de maior e especial cuidado com os mais idosos, com os portadores de determinadas doenças, mais frágeis no todo.
Foi por isso que os netos, três garotos, acostumados a frequentar e aprontar na casa da vovó, sentiram o afastamento.
Chegaram as vacinas, a pandemia pareceu arrefecer a sua sede de vidas e, finalmente, depois de muita insistência, foi estabelecido o dia de irem à casa da avó materna.
Data marcada, chegaram os garotos. Máscaras no rosto, álcool gel nas mãos.
Vovó preparou algo especial para a ocasião, reprisando o que costumavam fazer, de maneira frequente.
A tarefa conjunta era fazer sonhos.
Misturam a massa, sob os olhos atentos da senhora. Usam o rolo, deixam a massa na altura certa e depois, moldam os sonhos, com cuidado, um a um.
Chega a hora de deixar os sonhos descansarem. Se é que isso é possível com tantas conversas e perguntas, ao redor.
É o momento de preparar os recheios. Creme de leite para diminuir a densidade do doce de leite e da goiabada deliciosos.
A experiente avó é quem frita os sonhos. Depois, os meninos formam uma equipe.
Um abre o sonho, outro introduz o recheio, o terceiro passa no açúcar refinado,
O café quentinho faz companhia aos sonhos. Finalmente, é a hora de acondicionar as doçuras em sacolinhas para brindar os irmãos e os primos, que não puderam estar presentes, para não haver aglomeração.
* * *
Sonhos que realizam outros sonhos, como os de poder conviver um pouquinho com vovó, em época de restrições.
Toques familiares, pequenas realizações, aconchego carinhoso entre os que permanecem maior tempo distantes, são verdadeiras injeções de ânimo.
Meses intermináveis de encontros virtuais pedem um pouco de aproximação, de toque, de contato, mesmo que camuflados pela capa da proteção devida.
E quando o encontro termina, fica uma vontade de quero mais, de reprise, em outro momento, em outro dia.
Enquanto vige a pandemia, continuamos assim. Encontros, de vez em quando, poucos de nós a cada vez.
Tudo esquematizado para podermos estar juntos novamente, enquanto sonhamos.
Sonhamos com o dia em que esta fase pandêmica se esgotará, em que poderemos voltar a estar juntos, a qualquer dia, a qualquer hora.
Em que poderemos planejar viagens em família, passeios em finais de semana e nos feriadões.
Por enquanto, sonhamos. Sonhamos com o amanhecer da liberdade que há de chegar. Uma liberdade que tínhamos e nem nos dávamos conta.
Tudo era tão simples e descontraído. Nada a nos deter. Bastava telefonar, agendar, preparar e lá estávamos todos juntos, familiares e amigos.
Por ora, no entanto, nos cabe sonhar com a reprise desses sonhos sonhados.
E, porque cremos em Deus e temos a certeza de que o Pastor das nossas almas governa o planeta, aguardamos que aqueles dias retornem, logo mais...
Aguardamos que, um dia, em plena madrugada de um novo tempo, possamos respirar mais livremente. E nos abraçarmos forte, intensamente, a qualquer momento.
Redação do Momento Espírita
Em 6.11.2021.
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