O grande carro de luxo parou diante do pequeno escritório à entrada do cemitério e o chofer, uniformizado, dirigiu-se ao vigia.
Você pode acompanhar-me, por favor? É que minha patroa está doente e não pode andar, explicou. Quer ter a bondade de vir falar com ela?
Uma senhora de idade, cujos olhos fundos não podiam ocultar o profundo sofrimento, esperava no carro.
Sou a Sra. Adams, disse-lhe. Nesses últimos dois anos mandei-lhe cinco dólares por semana...
Para as flores, lembrou o vigia.
Justamente. Para que fossem colocadas na sepultura de meu filho. Vim aqui hoje, disse um tanto consternada, porque os médicos me avisaram que tenho pouco tempo de vida. Então quis vir para uma última visita e para lhe agradecer.
O funcionário teve um momento de hesitação, mas depois falou com delicadeza:
Sabe, minha senhora, eu sempre lamentei que continuasse mandando o dinheiro para as flores...
Como assim? Perguntou a dama.
O rapaz respondeu um tanto reticente:
É que... a senhora sabe... as flores duram tão pouco tempo... E afinal, aqui, ninguém as vê...
O senhor sabe o que está dizendo? Retrucou a dama.
Sei, sim senhora. Pertenço a uma Associação de Serviço Social, cujos membros visitam os hospitais e os asilos. Lá, sim, é que as flores fazem muita falta...
Os internados podem vê-las e apreciar seu perfume.
A senhora deixou-se ficar em silêncio por alguns segundos. Depois, sem dizer uma palavra, fez sinal ao chofer para que partissem.
Meses depois, o vigia foi surpreendido por outra visita. Duplamente surpreendido porque, dessa vez, era a própria senhora que vinha guiando o carro.
Agora eu mesma levo as flores aos doentes, explicou-lhe, com um sorriso amável.
O senhor tem razão. Os enfermos ficam radiantes e fazem com que eu me sinta feliz. Os médicos não sabem a razão da minha cura, mas eu sei.
É que reencontrei motivos para viver. Não esqueci meu filho, pelo contrário, dou as flores em seu nome e isso me dá forças.
A Sra. Adams descobrira o que quase todos não ignoramos mas muitas vezes esquecemos. Auxiliando os outros, conseguira auxiliar-se a si própria.
* * *
Não é necessário visitar o túmulo dos entes queridos que partiram para levar o nosso carinho.
É que eles, definitivamente, não estão ali, onde foi enterrado o corpo físico, mas são como pássaros que deixaram a gaiola e voam livres.
Para que demonstremos o nosso afeto, basta que lhes enviemos as flores da nossa gratidão através do pensamento impulsionado pelos sentimentos de afeto que sempre nos nutriu e eles perceberão, onde quer que estejam.
Assim, a nossa visita ao cemitério será apenas para conservação e limpeza do lugar que serviu de aduana para a libertação do ser a quem tanto amamos e que continua vivendo.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v.4, ed. FEP.
Em 18.7.2013.