Quando criança, pouco tempo passado depois que fui inserido na educação infantil, enquanto tagarelava com meu pai simplesmente revelei, como quem conta algo muito trivial: Pai, eu já sei ler.
Ele me olhou um tanto surpreso. Afinal, eu acabara de ingressar na escola. Estaria mesmo lendo ou seria apenas algo em que eu, inocentemente, acreditava?
Então, ele me indicou uma palavra. Juntando as sílabas, eu li sem maiores dificuldades: Europa.
Meu pai ficou emocionado. Realmente, eu estava lendo. E acertei-me profundamente com as letras. Passei a ler tudo o que me passava pelos olhos.
Depois de algum tempo, meu pai me levou à biblioteca pública. Fizemos minha carteirinha de leitor.
Ler tornou-se um inquebrantável elo entre nós. Continuamos leitores assíduos. A leitura transformou-se em meu grande prazer e a literatura, naturalmente, em minha profissão: sou professor dessa disciplina.
Tudo por um pequeno vocábulo lido na infância, por uma carteirinha de biblioteca.
Os anos se passaram, mas o amor que meu pai e eu temos pelas belas letras não arrefeceu: Filho, qual livro você indica para mim agora? Já terminei determinada obra. Inclusive, quero indicá-la a você, pois o enredo é muito interessante.
Por vezes, em nossas conversas, teorizamos: O que é um romance, filho? Quais as diferenças entre poesia e prosa?
O amor nos une. E a palavra, escrita ou falada, é a materialização desse amor.
Por vezes, passamos horas nos comunicando via ligação telefônica. De outras, compartilhamos os acontecimentos diários por meio dos aplicativos de troca de mensagens.
Leitor desvelado que sou, não sei hoje mensurar quantas obras literárias já li. A quantidade de palavras também é incontável.
Todavia, nas dores pelas quais passei, ao longo da vida, nas desilusões, tristezas e mágoas, são de meu pai as melhores palavras.
Ele é a quem posso recorrer em todos os instantes e que sempre possui a palavra adequada para acalentar meu coração.
* * *
Naturalmente, o sofrimento não é um desconhecido para nenhum de nós que habitamos este planeta. Em maior ou menor grau, cada qual, de acordo com os compromissos espirituais assumidos, encontra-se com ele.
Naturais também são os questionamentos: Por que Deus permite que eu sofra? Por que as mazelas pelas quais passa a Humanidade? Por que a fome, o abandono, a ingratidão?
E, da mesma forma, que encontro em meu pai terrestre apoio e auxílio, conto com o Pai maior, o de todos nós.
Dessa forma, quando as dores se tornarem mais intensas, ouçamos do Divino Pai a palavra celestial. Filiados pela criação, Ele está em nós e nós estamos nEle.
Na desilusão, ouçamos ecoar dentro de nós a palavra fé. Na amargura, a esperança. No desamor, a confiança.
O Celeste Pai sempre possui, em todas as circunstâncias de nossa existência, a palavra perfeita, enunciada no momento exato, na intimidade dos nossos corações.
Saibamos ouvi-lO. Agucemos os ouvidos da alma e ouçamos a Voz do Senhor que nos ampara, consola e auxilia.
Não nos esqueçamos disso.
Redação do Momento Espírita,
em homenagem a Aguinaldo Edvin Pertel.
Em 16.3.2021.
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