O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência, como o mármore não talhado é rico em escultura.
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Em tempos de tanto som, de tanto ruído no mundo, vale a pena falarmos um pouco sobre o silêncio.
O estudioso da música, ao ler uma partitura, sabe muito bem que além de notas e mais notas sobre a pauta, existe uma figura igualmente importante: a pausa.
A pausa musical é um intervalo de tempo onde deve haver silêncio absoluto. É uma certa parte na obra em que nenhuma nota deve ser tocada.
O silêncio da pausa é necessário ao som. Ele não é apenas a tela sobre a qual a música é pintada, é uma das cores na paleta do compositor.
Saber quando tocar as notas e preencher um vazio é tão importante quanto saber silenciar.
Assim, à maneira das belas composições musicais, nossas existências necessitam de silêncio, da pausa.
Imaginemos que cada vida, cada encarnação, seja uma grande obra musical, com diversos movimentos e partes.
Pois bem, para compor uma bela obra, um belo viver, precisamos de lindas melodias, divididas em compassos certos.
E, em meio aos mais tocantes temas, devemos encontrar as figuras de silêncio.
As pausas musicais também divergem umas das outras, de acordo com o tempo.
Existem as muito breves, quase imperceptíveis na peça.
Podem ser igualadas àqueles momentos do dia em que silenciamos a mente um pouco, esvaziando-a, ouvindo a natureza, fechando os olhos, respirando fundo...
São as pausas que nos fazem lembrar que ainda respiramos, que nos fazem perceber movimentos, cores, perfumes, que nos passaram despercebidos em meio ao turbilhão diário.
É a pausa da prece, do sono refazedor, das caminhadas lentas e proveitosas.
Outras pausas são um pouco mais longas na partitura musical. Essas percebemos com mais clareza, pois muitas vezes preparam uma mudança, um clímax, ou mesmo a conclusão da obra.
Em nossa vida, são os instantes de descanso, os dias em que mudamos de atividade radicalmente, que passamos com a família, deixando a agitação e as preocupações do mundo material um pouco de lado.
O descanso faz parte da lei do trabalho. Não fomos feitos para funcionar, ininterruptamente, numa determinada atividade, sem parar, sem qualquer intervalo.
Por fim, temos os grandes trechos de silêncio nas músicas. Por vezes um, dois compassos inteiros ou até maiores espaços de tempo.
Chegam a ser um tanto incômodos para aqueles que nos acostumamos ao muito ruidoso, agitado, onde tudo fala sem parar.
Pois bem, em nossos dias, esses são aqueles silêncios de recolhimento profundo, em que paramos tudo que estamos fazendo e repensamos a vida, os caminhos, para tomar direções diferentes.
Alguns viajamos, buscamos novos ares, outros mudamos os hábitos radicalmente e encontramos o necessário isolamento para organizar a mente e o coração.
Nossos lutos estão entre esses momentos importantes. A alma em contato consigo mesma para mergulhar na aceitação, no entendimento e no contato com o Criador da vida.
A música é uma composição de sons e silêncios.
Que possamos fazer de nossas vidas uma emocionante sinfonia.
Redação do Momento Espírita
Em 26.12.2020.
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