Deixando a atividade que a mantivera acordada pela madrugada, em sua qualidade de cuidadora de idosos, Elô teve sua atenção despertada para uma idosa, que tentava atravessar a rua.
Ela parecia cansada, como se o peso dos anos a esmagasse.
Elô apanhou a sacolinha magra de compras daquelas mãos envelhecidas e decidiu acompanhá-la, até sua casa.
O quintal estava um tanto abandonado, não se conseguindo distinguir o que eram plantas, flores, do mato que crescia alto.
A casa pequena demonstrava a necessidade de uma boa limpeza.
Sobre uma cama, pálido, emagrecido, o marido, senhor José, mal tinha forças para conversar.
Com seu olhar experiente, Elô detectou de imediato, todas as dificuldades do casal.
Percebeu o carinho da esposa para com o enfermo e dele para com ela. Um casal que avançara nos anos, lado a lado.
As primeiras atitudes de Elô logo se fizeram presentes. Apesar das tantas horas de trabalho que enfrentara, ela providenciou alimentação adequada a ambos, dispôs a mesa, auxiliou na higiene do doente.
Horas depois, de retorno ao lar, os pensamentos começaram a turbilhar na sua mente.
Ela resolvera o problema daquele casal, nesse dia. Mas e nos seguintes? Até quando aquela idosa conseguiria atender ao também idoso marido?
E quem providenciaria remédio, alimentação adequada, higiene?
Em diálogo franco com a sua família, disse que adotaria aquelas duas pessoas, atendendo-as, enquanto vivessem.
Propunha-se a estar com elas, mesmo que isso significasse abandonar, pelo tempo que se fizesse devido, a atividade remunerada.
Os familiares, sensibilizados pela apresentação dos problemas registrados por Elô, a apoiaram.
Assim ela quase que se transferiu para a casa dos idosos, retornando ao lar à noite, para abraçar os seus amados.
No transcorrer dos dias, mais de uma vez, ela mesma precisou suprir, com seus recursos, a despensa e a pequena farmácia doméstica, que o enfermo, em especial, requeria.
Não somente a casa, o quintal, mas a vida do casal sofreu modificações. Um ar de tranquilidade, de ordem, a tudo envolveu.
Passados dois meses, o senhor José se despediu desta vida deixando só a companheira.
Elô continuou na sua dedicação, fazendo companhia para a idosa, providenciando o que necessitasse e auxiliando-a nas tarefas da casa, nas breves saídas para um passeio.
Quando não conseguindo viver sem a presença do coração querido que partira, sua protegida também se despediu da vida, Elô foi dar continuidade aos seus próprios interesses.
Na alma, um sentimento de bem-estar, por ter podido atender aqueles dois seres desconhecidos, que seu carinho conquistara para o rol das suas amizades.
* * *
Como Elô, existem muitas criaturas sobre a face da Terra. Desinteressadas, anônimas.
A tônica é a vontade de auxiliar, de minorar dificuldades alheias. Tudo em nome do amor, esse amor fraterno que nos ensinou o Mestre de Nazaré.
Um amor que se doa, nada exige. Que deseja o bem-estar do outro, e sem alarde, serve o quanto possa.
Um amor que descobre as necessidades do seu irmão, onde quer que se encontre.
Redação do Momento Espírita.
Em 20.6.2020.
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