Nesta época em que vivemos, a sensação é que jamais estamos sós. Cercados por gente em ônibus, metrôs, aviões, locais de trabalho e ruas. Entretanto, nunca fomos tão solitários.
E quanto mais nos cercamos de gente, de barulho, de tarefas, mais se agrava a sensação de que estamos sós. Parece contraditório?
Parece sim. Mas não há contradição. Porque estar em companhia de alguém é muito mais do que estar ao lado da pessoa.
Muitas vezes a presença física está lá, mas a alma já escapou para um lugar distante.
Um dos maiores compositores da humanidade, Giuseppe Verdi, criou uma imagem fascinante para as pessoas que vivem cercadas de gente, em festas cheias de risos e de alegria, mas que se sentem caminhando sós pelo mundo.
Está na ópera La traviata. É quando a personagem Violeta fala que é uma mulher sozinha em um populoso deserto.
Quantas vezes nos sentimos em um deserto habitado por gente estranha!
Sim, em nossa vida raramente temos pessoas que pensam igual a nós.
Aqui e ali temos afinidades e pontos em comum, mas a trajetória da alma é solitária. Nossas descobertas, vitórias e frustrações são intransferíveis.
Em nosso caminho para Deus estabelecemos diálogos que dizem respeito apenas a nós mesmos.
Processos pessoais, momentos puramente individuais em que a voz da consciência ressoa em nossa alma com exatidão... Com rara sinceridade.
Por melhores sejam os amigos, eles não nos dirão as verdades como a nossa própria consciência o faz.
O amigo não vai desejar nos ofender, maltratar ou irritar. Por isso, ele tentará minimizar a dura verdade.
Mas a consciência, não. Ela nos apresenta uma avaliação rigorosa de nossos atos. Ela nos põe diante de nós mesmos.
Tudo muito naturalmente. E sequer conseguimos contestar essa avaliação criteriosa.
Então, por que temer a solidão? É quando silencia o mundo à nossa volta que conseguimos ouvir a voz da consciência.
O homem sábio muitas vezes busca o deserto, a quietude, o silêncio, a fim de se encontrar consigo mesmo, de voltar-se para Deus.
Há tempo para tudo, ensina o Eclesiastes, um dos livros bíblicos. Tempo de semear, tempo de colher, tempo de falar, tempo de silenciar também.
Silenciar para ouvir os sons da alma, os conselhos do coração.
Então, se a vida lhe oferece a solidão, acolha-a como um presente. Aproveite cada minuto para reflexões. Encare tudo como oportunidade de aprendizado.
Há tanta gente imersa em ruídos, sufocada por conversas maledicentes ou pelo som de risadas irônicas. Há tanta gente cercada de pessoas mas com o coração amargurado, oprimido, vazio.
Por isso, não lamente a falta de companhia do mundo. Busque na sua solidão a mão amiga de Deus.
* * *
Enquanto você se crê solitário e triste, frustrado nos anseios que acalentava, perde os olhos nas tintas carregadas do pessimismo e não vê aqueles olhos que o fitam inquietos, desejando se acercar de você, sem oportunidade de poder fazê-lo.
Pense nisso!
Redação do Momento Espírita.
Em 11.5.2020
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